Mas vá lá, ainda tinha um resto de Boa Vontade, fruto da época. E assim, sorri. Correu bem, obrigado. E o seu?
quarta-feira, dezembro 27, 2006
Então esse Natal?...
Mas vá lá, ainda tinha um resto de Boa Vontade, fruto da época. E assim, sorri. Correu bem, obrigado. E o seu?
domingo, dezembro 24, 2006
Festas Felizes!
É que qualquer lugar, seja aqui, longe, ou até no ciberespaço, há sempre lugar para o espírito nesta época. Há sempre lugar para o Amor, para a Paz e para a Boa Vontade.
A todos os meus amigos, desejo Festas Felizes, com tudo o há de bom. E que por todo o lado, transpareça o que o Natal realmente significa: os melhores sentimentos do Homem.
quinta-feira, dezembro 21, 2006
Roubo... Perdão, Compras Natalícias
sexta-feira, dezembro 15, 2006
O Almoço de Natal da Empresa
Já tive de ouvir das minhas colegas que estão muito tristes por eu não ter vindo de gravata. É um acontecimento para elas, coitadas, o dia do ano em que vêem o A. engravatado... Mas hoje apeteceu-me trazer o pullover cor de rosa que a mãe me deu no Natal passado. Não o trago normalmente, o rosa choque não condiz com o espírito de trabalho. Mas trago-o hoje. Afinal, não venho de gravata mas venho diferente na mesma.
O Natal também já não é o que era por aqui, mesmo. Não se enfeitou o escritório, nem se programou troca de prendas entre nós. Anda tudo muito chocho, tudo muito desinteressado. Eu inclusive. Desde que a J. ficou de baixa para ter a menina dela, já lá vão largos meses, que não falo com praticamente ninguém por aqui, pelo menos falar a sério.
Mas vamos almoçar. Sempre é um almoço à borla, e sempre dá para descontrair. Vamos comer, vamos cantar no Karaoke. E vamos esperar que para o ano seja melhor.
quinta-feira, dezembro 07, 2006
The LINGO Experience
Convite
Não me lembro bem, mas pode ter sido “No feriado vou ao casting para o Lingo, tu vais comigo.”
Ou talvez tenha sido “Por favor, por favor, por favor, preciso mesmo que venhas comigo para ter alguma chance de fazer boa figura!”
O mais provável é ter sido algo intermédio. O facto a reter é que sim, há dois meses atrás aceitei ir com a mana ao casting para mais um concurso de televisão.
Casting
Foi no espaço do Ágora, em Santos. Foi a primeira vez que lá entrei; só conhecia o antigo, da altura em que ainda andava na faculdade.
Chegámos atrasados (uns mais do que outros) mas muito a tempo de fazer os testes de selecção. Tivemos de fazer palavras cruzadas, puzzles de palavras, encontrar sinónimos, responder a (algumas) perguntas de cultura geral. À maior parte consegui responder, mas foi-se criativo onde teve de ser. Deixei com a produção uma foto minha com uma das muitas vacas que invadiram Lisboa este Verão, e isto, aliado ao resultado muito acima da média (cof, cof!) da minha prestação escrita garantiram-nos um lugar na sessão de ontem do programa.
Preparativos
Chegámos aos estúdios da Valentim de Carvalho, eu, a mana e o A.R., que nos foi acompanhar e dar (muita) força, um pouco antes da hora marcada (!). Aí já nos esperavam os nossos oponentes da tarde, o José e a Patrícia, primo e prima vindos da zona de Bragança. Vieram de longe para perder…
Entrámos, e a rapariga que nos recebeu estava com uma moca tal que metia impressão. Segundo informações posteriores das colegas, tinha mudado de medicação. Cá pra mim, a receita nova deve incluir administração de tranquilizantes para elefante misturados com LSD…
Chegaram mais membros da produção, e daí a pouco estávamos a passar pelas formalidades da praxe: preenchemos as declarações de cedência de direitos de imagem, e respondemos a um questionário sobre hobbies e afins, e a perguntas sobre o nosso companheiro de equipa. Fui um querido e não disse nada de muito mau acerca da mana.
Entretanto fomos maquilhados, e cá pra mim, da próxima vou aceitar os préstimos do meu maquilhador privativo, porque a meio do programa a minha testa já brilhava. É o que dá quando se economiza no pó matificante. Pelo menos escapei ao destino dos nossos adversários, que ficaram os dois a parecer que tinham acabado de sair do avião, depois de uma temporada nas Caraíbas, de tão castanhos que estavam.
Ensaio
Tivemos primeiro um briefing onde nos foi explicada a mecânica de jogo, e depois passámos ao ensaio propriamente dito, mas não sem antes nos terem colocado os microfones.
Foi um ensaio geral, com direito a praticamente tudo o que se iria passar no directo. Foi aqui que tivemos contacto com a apresentadora, a Tânia Ribas de Oliveira. Já gostava do trabalho dela desde a Operação Triunfo, e mais recentemente n’A Herança, e além de continuar a gostar como conduz o Lingo, confirmou-se a impressão que além de boa profissional é uma pessoa muito simpática e acessível. Adorei vê-la e espero que continue o bom trabalho.
Foi engraçado porque o ensaio foi muito idêntico ao que se iria passar a seguir. A equipa A (que por acaso era porreira; eram os dois muito fixes) começou a ganhar, mas nós (a equipa B – dah) conseguimos passá-los no final. A simulação da final também correu bem… *sigh*
Acabou o ensaio e depois de retocar a maquilhagem ainda houve tempo para ir ter com o A.R., que estava a assistir por TV de circuito fechado e ir tomar um café para ajudar os nervos.
Directo
E pronto, lá assumimos os nossos lugares para o directo, eu e a mana na nossa bancada, e o A.R. na plateia, ao lado das velhinhas todas. :)
Não vou detalhar o decorrer da sessão, até porque o A.R. já fez isso no seu blog. Como dá para perceber por aí, as pontuações não começaram bem para o nosso lado, e comecei logo a vislumbrar um destino idêntico ao fiasco (em termos de pontos) que foi o Em Família. Felizmente conseguimos dar a volta ao resultado e até criámos, atrevo-me a dizer, algumas situações interessantes para quem estava a ver, com as reviravoltas, empates e desempates.
Mais importante do que os espectadores terem gostado ou não, foi eu perceber como da outra vez que passados os momentos iniciais deixei de me preocupar minimamente com as câmaras e apenas joguei – com o bónus de desta vez não me ter perdido em tiques nervosos. Deixei os bichos-carpinteiros bem sossegadinhos e ali estive, sereno e compenetrado. E a responder coisas certas.
Diverti-me muito. Acho que se notou. Fartei-me de “picar” a mana e ela a mim. E apesar de só termos ganho mais 10 euros do que a outra equipa, o termos conseguido ESMAGÁ-LOS COMO INSECTOS!!!! (pode haver aqui alguma liberdade criativa…) fez a diferença e saímos dali com o sentimento de dever cumprido. Pena não se ter conseguido fazer mais na segunda parte – no ensaio tinha corrido muito melhor – mas paciência.
Fora de brincadeiras, tenho de te agradecer, mana, por termos mesmo formado uma equipa e os dois termos conseguido passar à final. Portaste-te muito bem e fiquei orgulhoso de ti.
E tenho de te agradecer, meu A.R., por teres ido apoiar e por fazeres com que sinta sempre que estás ao meu lado.
Pode parecer estupidez para os outros, mas sinto que ontem venci mais um (pequeno) desafio pessoal. E sinto-me bem por isso.
quarta-feira, dezembro 06, 2006
quarta-feira, novembro 29, 2006
David Fonseca, ele próprio
No dia 23, a Aula Magna alojou por algumas horas o que tenho de classificar como o melhor concerto a que já assisti até hoje.
Foi um espectáculo de luz, imagem, efeitos visuais que me remeteu para cada uma das canções de forma assombrosa. Vi David Fonseca, solto e à solta em palco, em perfeita comunicação com o público. Ouvi-o tornar-se um com a música e envolver-me no seu universo pessoal.
Durante mais de duas horas e meia, que pareceram passar a voar, o homem que constatei ser um verdadeiro animal de palco presenteou a assistência com as músicas mais emblemáticas dos seus dois álbuns, assim como temas da época Silence 4, com nova roupagem. Adorei cada uma. E também nos trouxe covers. Bastantes covers. Reinterpretações de canções dos anos 80 (que é um dos meus períodos musicais favoritos), que ao invés de trazer pensamentos de “olha, está a cantar mais uma música antiga” me fizeram salivar, e querer mais e mais. Não só porque gosto dos 80’s, mas porque lhes deu uma roupagem tão íntima, de quem interiorizou algo e nos mostra o que cada um daqueles temas significa para si.
Essa característica foi o que mais me fascinou. O espectáculo conseguiu transmitir-me o aspecto superprodução, cuidada em todos os pormenores, e ao mesmo tempo parecia estar a ver uma banda de garagem. No melhor sentido possível; lembrou-me uma actuação pessoal, e com a emoção e sentimento de descoberta que só alguém que começa consegue ter. Parecia que estava a ver um amigo actuar.
Pois é. Depois de me ter rendido ao seu timbre único e à sua escrita de canções logo no início dos Silence 4, e à confirmação do seu talento em “Sing Me Something New”, faltava capitular à sua prestação em palco – e na quinta-feira, toda a Aula Magna partilhou dessa minha rendição.
Sim, o David é mesmo ele. E um senhor.
sexta-feira, novembro 24, 2006
quinta-feira, novembro 23, 2006
Instantes
Precisei de encontrar uma foto. Coisa rápida, aparentemente. Era só dirigir-me à prateleira das fotografias (sim, os meus pais têm uma prateleira inteira com álbuns de fotografias) e procurar, e foi o que fiz.
Dei por mim sentado no sofá duas horas depois a folhear um dos álbuns. Ao meu lado, alguns ainda esperavam a sua vez. Não porque ainda procurasse uma foto específica, mas porque me perdi no meio daquelas caras tão familiares e ao mesmo tempo tão diferentes que olhavam para mim. Muitas, felizmente, ainda fazem parte dos meus dias, outras não. Algumas já desapareceram de facto, outras desapareceram nas voltas do mundo. Todas elas, no entanto, fazem tanto parte de mim como daquelas fotografias.
A minha família já passou por muitas, muitas fases, e ainda assim, o que está patente em todas aquelas fotos é a constância. Aniversário após aniversário, Natal após Natal, as poses repetem-se, os sorrisos renovam-se. Boa parte do meu centro está ali, no que aqueles álbuns representam. Naqueles instantes, na sua maioria felizes, preservados numa superfície de papel, está muito do que me acompanhou no crescimento até à pessoa que sou hoje. E está também aquilo com que espero poder contar durante muito tempo.
Ontem perdi-me em momentos guardados no tempo. Sabe bem visitá-los de vez em quando.
terça-feira, novembro 14, 2006
Manhã de Nevoeiro
quinta-feira, novembro 09, 2006
Ondas Vagas
Ondas que perduram,
que se renovam
onde as guardas,
ondeando através de nós,
através e ao redor
de onde ando,
de onde andamos os dois.
Vagas que vagueiam
por aquilo que sentimos,
vagas naquilo que são,
vagam o resto de importância
e enchem as tuas horas
vagas
de redes de espuma.
Renova aquilo que sentimos.
Guarda o que tem importância.
Abandona as ondas vagas de sentido
a divagar onde as pensaste.
Deixa-as para depois,
feitas em coisa nenhuma.
quinta-feira, novembro 02, 2006
Impressões Ensanguentadas
Neste meu estado delicado (afinal, tinha acabado de me tornar um zombie), passeei pelo Bairro Alto. Numa noite que se queria de fantasia, de horror divertido, foi decepcionante ver que praticamente ninguém aderiu. Apenas normalidade por toda a parte. Ou pseudo normalidade. Muitos haviam que só com algum esforço se percebia não estarem mascarados. E tenho a certeza que outros, apesar do aspecto superficialmente banal, têm mentalidades tão assustadoras que poriam qualquer fantasia de Halloween a um canto.
As reacções diferiram bastante. Pela rua, algumas pessoas olhavam para mim e perguntavam na brincadeira se tinha tido um desastre. Comentavam divertidas com os amigos “Coitado, aquele senhor esfolou-se todo.” Os poucos que se cruzavam connosco igualmente fantasiados soltavam exclamações satisfeitas por não serem os únicos. Mas também vi sorrisos de gozo. Comentários de que “assim pintados só nos tinha faltado pintar as unhas”.
Sei que a maior parte da população não acha graça a fazer estas figuras. Acha que essas brincadeiras são infantis, e que há coisas muito mais importantes com que nos preocuparmos do que vestirmo-nos de bruxas ou vampiros e irmos para a rua. Também sei que o Halloween é, para não variar, mais uma festividade importada com fins comerciais. Pode ser. Mas se a vida já é tão rotineira, e tão sensaborona muitas vezes, porque não brincar e juntar-lhe momentos divertidos sempre que temos hipótese?
terça-feira, outubro 31, 2006
sexta-feira, outubro 27, 2006
Traumaturgia
<>Colocar.Disco >
PLAY.
00:01
00.02
00.03
<>Ligar.Cabo >
<>Pressionar.Botão.Repeat > CLICK.
Respiro.
Dói por dentro.
Por dentro nem sei de quê, porque já não tenho corpo.
Agora sou luz e vivo aqui, sangue pixelizado
Pingando gota a gota da tela inexistente.
Sim, ainda dói, mas dói menos.
Porque não cheiro o metal queimado,
A carne torcida.
Porque abandonei os gritos lancinantes do futuro.
Agora sou presente, e sou luz.
E nada me atinge, só este gotejar manso.
Click.
Click.
Click.
Sou luz, luz incontida, incomensurável!
O gosto a morte já não me incomoda!
Click.
Click.
Sou eterno!
<>Pressionar.Botão.Stop > CLICK.
quinta-feira, outubro 26, 2006
quinta-feira, outubro 19, 2006
Em forma...
É óptimo fazer exercício. Devia era ter percebido isso quando era adolescente, e assim tinha o trabalho facilitado. Anos de prática regular de actividade física ter-me-iam preparado para... bem, para mais anos de prática regular de actividade física. Em vez disso, tenho de arrastar-me a custo pelo circuito das máquinas, e ver as senhoras entradotas levantar o mesmo peso que eu. Ah, as alegrias de ser um fracote crónico!
Claro que há um lado muito positivo. Sinto-me mais descontraído, mais leve, cada vez que saio do ginásio. É óptimo para descomprimir, e sei que o exercício só me faz bem. E sempre estou num ambiente diferente por umas horas, para desenjoar do emprego e de estar fechado em casa.
Era bom era ver mais resultados. Era excelente que ao fim de umas semanas a minha barriga estivesse lisa e o meu pneu furado. Também gostava de encher minimamente a parte superior do corpo. Mas pronto... Mesmo que as coisas não funcionem assim já não me importo de ir reduzindo a custo parte das gordurinhas supérfluas. É melhor que nada e sempre me mantenho um pouco mais saudável no processo.
Mais uns meses e pode ser que já se note alguma coisa. Espero bem que sim. Mesmo. É que por enquanto olho para o espelho e apetece-me perguntar a mim mesmo...
"Estás em forma? Mas em forma de quê?"
sexta-feira, outubro 13, 2006
Sexta a 13
Sexta-Feira, 13!
Coitada, provavelmente o azar dela foi a roupa do estendal ter pegado fogo e ter ficado sem mais nada para vestir...
terça-feira, outubro 10, 2006
Poor Pretty Pink Poodle
O pobre do bicho, alheio à sua (falta de) sorte, trotava alegremente ao lado da dona. Essa, de relance, pareceria bastante normal não fora o cartaz a dizer "Tenho um mau gosto brutal" que pendurou em si própria ao mandar tingir o cão.
Mas que raio passará pela cabeça de algumas pessoas, esta rapariga incluída? Se alguém se quer destacar, revelar individualidade, força. Roupas alternativas, tudo bem. Penteados avant-garde, sou todo a favor. Mas expressar-se transformando o animal de estimação numa Supergorila de Morango Ácido?
O animal não se torna mais infeliz por ser cor de rosa, eu sei. Para ele é exactamente a mesma coisa. Nisso tem realmente mais sorte. Não se apercebe do atentado contra a sua dignidade. Podia ser pior, também sei disso. Ao menos não caiu numa casa onde o maltratem fisicamente. Mas mesmo assim, era engraçado ver a dona pintada de amarelo fluorescente num qualquer cruzamento a substituir a sinalização da rotunda... Ela havia de gostar...
sexta-feira, outubro 06, 2006
sexta-feira, setembro 29, 2006
Dois Dias >>
Gay >> Mister Gay. Terminou-se a noite de Sábado nesse local tão pitoresco, à falta de palavra melhor. É brega, sim. O show é o que toda a gente sabe (e acreditem, se não sabem, estão melhor assim). Mas no Sábado está sempre lotado, e como já não punha lá os pés há uns bons tempos, gostei de voltar. Claro que ajuda estar agarrado a um gajo giro para aguentar o show, e a música não estava má. Só não estivemos mais tempo porque o sono falou mais alto.
Sono >> Não é tão bom dormir? Também merece destaque porque é muito raro conseguir dormir nove horas seguidas, como fiz este fim de semana. E só quem nunca o fez é que não sabe como é bom acordar agarradinho à pessoa de quem gostamos.
quinta-feira, setembro 21, 2006
Flash Gordon
Vem a propósito, porque hoje à noite fui violentamente acordado por outro Gordon, que em vez de Flash era Hurricane. Anunciou-se com trovões ensurdecedoramente estrondosos, ensopou tudo e todos, e em vez de salvar a Terra como o herói intergaláctico deixou o trânsito da maior parte do país mergulhado no caos esta manhã.
Demorei mais ainda que o normal para chegar ao trabalho. E como já é costume chegar cedo...
Nem de propósito. Eu a falar do fim do Verão, e o furacão Gordon a trazer uma bela amostra de Inverno, na pior das formas possíveis. O Engarrafamento de Trânsito...
quarta-feira, setembro 20, 2006
Fim de Verão
Os dias são cada vez mais pequenos. Acabou outra série dos Morangos com Açúcar. Eu estou de volta ao trabalho. E os campeonatos de surf têm cada vez menos espectadores.
Tenho andado a seguir o A.R. pelo circuito de surf do país, a reboque da Chipmix. Há algumas semanas na Ericeira, numa das etapas, a praia estava pejada de espectadores. Patrocinadores aos montes ergueram tendas para publicitar os seus produtos. Mas na última etapa a que assisti, por estes dias, o número de espectadores estava reduzido a um mínimo.
É pena. Apesar da diminuição progressiva da temperatura que se tem feito sentir e do tempo por vezes encoberto, estava-se bem na praia. As ondas foram muito mais espectaculares do que das outras vezes, e por isso os pros puderam exibir-se.
É claro que isso não importa; o calendário diz que a praia está out até ao ano que vem. E naturalmente, já está tudo a preparar-se para hibernar. As pessoas e o país em geral.
Que durmam, então, enquanto as ondas são maiores e o areal mais selvagem. Enquanto o encanto da praia muda de paraíso solarengo, para planície à média luz, até céu solitário de trovoada, fiquem em casa. A sonhar com o sol. Que só volta para o ano.
sexta-feira, setembro 01, 2006
segunda-feira, agosto 28, 2006
No Festival - Ah, e houve música...
Já ouviram falar de publicidade enganosa? Não? Ainda bem, assim pode ser que não me processem. Ei, esta foi gira…
quinta-feira, agosto 24, 2006
No Festival - PDI(?)
Em ambos os dias quase vazio a princípio, o parque de estacionamento da Fortaleza de Sagres terminou as noites a rebentar pelas costuras. Rebanhos de gente acotovelavam-se junto ao palco, nas barracas de comes e bebes, nos stands promocionais, por todo o lado. Quando falo em rebanhos, é propositadamente. Notava-se uma nota tribal neste conjunto de pessoas, que determinadas tribos estavam ali em força, com as suas características identificativas bem patentes. “Lembra-te que és único. Como toda a gente.”
Após uma análise superficial, mas que penso ser bastante exacta, a afluência na sua maioria pode resumir-se às seguintes categorias:
“Sou surfista e estou aqui com a minha prancha e a minha garina”
“Sou pita, mas mesmo, mesmo, mesmo pitinha, e estas são as minhas 15 amigas”
“Yaaahhhhh…. Ganda pedra, meu!
“Yaaahhhhh…. Ganda moca, bacano!
“Yaaahhhhh…. Ganda bezana, pá!
“Yaaahhhhh…. Ganda***” (barulho de queda no chão, inconsciente)
Surpresa das surpresas, não me identifiquei com nenhuma delas.
O conjunto formado era bastante homogéneo, surpreendentemente. Uma massa de gente. Que se contorcia, e pulava ululante ao ritmo da música, ou talvez de nada. Que esbanjava energia cinética como se não houvesse amanhã. Tá-se bem. Afinal é o que eu faço cada vez que vou à discoteca. Mas eu guardo sempre um restinho de energia no fim. E não fico eléctrico por estar quimicamente feliz.
Houveram alturas, quando estava a ajudar o A.R., em que perguntei a mim próprio porque me irritava aquela gente frenética, que estava ali para curtir até mais não (de forma sexual ou não) e depois cair para o lado, sendo que a parte de cair era na maior parte dos casos obrigatória. Dei por mim a contemplar a hipótese de *gulp* ser por eu já não ter idade para aquelas maluqueiras.
É isso? Já estou velho e não dei por nada? Onde está o meu espírito de aventura, o meu amor pela agitação, pela diferença? Desapareceu com a idade?
Não acho que sofra de falta de espírito de aventura. Porque foram uma aventura, estes dois dias, e eu diverti-me. Pude é, isso sim, constatar que há multidões em que não me encaixo. Ou que não me encaixo em multidões, ponto. Que aquele mar de gente não é a minha praia.
Mas também tomei realmente consciência, talvez pela primeira vez na vida, de que há toda uma faixa etária em que já não me integro. Que veio depois de mim e que tem já uns quantos elementos que me são estranhos, que acho deslocados quando olho para o meu próprio passado.
Isso não é estar velho. É talvez perceber que já não sou o último modelo. Que há uma geração depois de mim, mais fresca, com certeza, com mais fome de tudo. Mas uma geração que não tem ainda o que já tenho. Não tem 30 anos de experiências com que contrastar o que lhe aparece no caminho, não sabe algumas coisas que se calhar já aprendi. E que essa geração, que neste momento se perde numa busca delirante pela sua identidade, há de encontrá-la um dia, ainda que provavelmente de forma diferente do que encontrei (encontro?) a minha.
Há tempo e espaço para todos nós neste mundo; felizmente sei que tenho os meus. E pesando tudo, até gosto bastante deles…
…mas se alguma vez estiver a falar com alguém e começar uma frase por “No meu tempo…” têm toda a liberdade para me dar um tiro de misericórdia.
Acho que afinal ainda vai haver mais um post em relação ao Festival. Por isso não percam, pode ser que esse é que seja giro. Nunca se sabe.
segunda-feira, agosto 21, 2006
No Festival - Bolachas e Tatuagens
O recinto do Festival também foi bem pensado. Em vez do palco no meio de nenhures que mais ou menos esperava encontrar, deparei com um complexo bem montado, mesmo dentro da vila. Com a fortaleza de Sagres como pano de fundo, e utilizando o parque de estacionamento da mesma como área do festival (para que é que a fortaleza precisa de um parque de estacionamento tão grande, não faço ideia), havia mais do que espaço suficiente para o palco, para todas as estruturas de apoio (Cruz Vermelha, bares, stands de comida, stands promocionais e casas de banho), e claro, para os espectadores.
Foi uma experiência nova, esta de entrar num recinto desta natureza, especialmente quando ainda estava quase vazio, com excepção do pessoal técnico e dos artistas, em pleno soundcheck. O A.R. e eu andámos um pouco por ali, com as nossas novas pulseiras rosa choque no pulso (eram as pulseiras que nos identificavam como parte do staff, não um fashion statement), a tomar café e a bisbilhotar, antes de começarmos a trabalhar, ou mais propriamente, ele a trabalhar e eu a apoiar.
Estivemos no Stand da Chipmix, uma marca entre as outras presentes com espaços publicitários. Aí, juntamente com outras actividades e distribuição de bolachas, das quais acabei por trazer algumas (hei, são boas, o que é que querem? E depois se são de chocolate?), havia um espaço onde quem quisesse podia ficar com um desenho na pele, uma tatuagem temporária que saía passados uns três dias. O A.R. estava encarregue dos desenhos e eu de limpar pincéis, controlar a fila e registar o que ele fazia. Durante os dois dias, foram quase duzentas tatuagens, feitas entre algumas (escassas) pausas. Ficaram giras, e foram feitas em tempo record. Mais uma vez, pude comprovar que o namorado é bom naquilo que faz, em tudo o que se propõe a fazer. Mas isso eu já sabia.
O que não sabia, ou pelo menos não tinha certeza era se, com todos os contratempos que já descrevi, o balanço das mini-férias ia ser positivo.
A resposta, mais do que sim, é SIM.
O chão era duro, mas adorei acordar ao teu lado.
A noite era cerrada, mas adorei fazer o caminho de mão dada contigo no escuro.
O percurso foi longo e debaixo de sol, mas adorei transportar as malas lado a lado contigo.
O trabalho foi muito, mas adorei ajudar-te no que pude e sentir que ajudei por estar lá.
Nem tudo tem de ser como planeamos para ser bom. E se nas dificuldades estiverem dois, como estão nas alegrias, então as coisas já não são tão difíceis.
Adoro-te. Em Sagres ou noutro lado qualquer.
E no próximo post, dúvidas existenciais. Não percam mesmo porque é capaz de ser o último, e já me disseram que este é que vai ser giro.
quinta-feira, agosto 17, 2006
No Festival - Vingança Kármica
Depois de um caminho naturalmente um pouco demorado mas sem incidentes, chegámos a Sagres e localizámos o caminho da vila para o Parque. À beira dessa estrada, quase totalmente ocultos pela escuridão, caminhavam diversos vultos de pessoas que (percebia-se) estavam hospedadas no parque e pediam boleia para lá. Lembro-me de na altura pensar para mim mesmo “Não querias mais nada…”
Foi esse o meu erro.
Pelos vistos os poderes cósmicos até estão atentos, de vez em quando. “Ai gozas? Depois de te estarmos a dar um dia bom? Então espera aí…” É que chegados ao parque de campismo, e a tenda montada, a J. recebe um telefonema. Por motivos familiares, tem de voltar para Lisboa nessa mesma noite. E volta, e com ela o carro.
E o A.R. e eu ficamos no Parque de Campismo de Sagres, a 4 Km do mundo civilizado… apeados.
Viemos a Sagres para passear, mas também porque o A.R. ia trabalhar no festival nestes dois dias. Não podíamos voltar para Lisboa com a J., apesar de nos custar deixá-la ir sozinha. Assim, tivemos de nos arranjar sem transporte, e os planos para as mini-férias foram forçosamente alterados. Praia estava fora de questão, porque sem carro não dava tempo de ir e voltar e ainda estar prontos a tempo de trabalhar. Valeu-me o bronze adquirido nas caminhadas à beira da estrada. Discoteca também nem pensar, especialmente porque se tinha falado em ir à Kadoc, que apesar de ser no Algarve, ficava a mais de 100km… Contentei-me com o som do stand da Chipmix, que por acaso até não foi nada mau.
Custou. Os vários percursos entre a vila e o Parque foram violentos. Umas vezes porque estava um calor abrasador, outra por cauda da escuridão total, outra ainda (a última) porque viemos carregados com TODO o material de campismo, de trabalho e roupas, mas todos porque a distância era grande, sem passeio de jeito, por cima de uma berma de pedras ou alcatrão quando não haviam carros. O coitado do A.R., depois de vários destes trajectos, ainda tinha de trabalhar 8 horas praticamente seguidas. E como éramos (somos) maçaricos no campismo, não levámos qualquer tipo de colchão ou almofada, apenas os sacos cama, o que quer dizer que o nosso descanso deixou um pouco a desejar.
Finalmente, e felizmente, depois de acabarmos o trabalho na terça à noite quase à uma da manhã, a J. conseguiu voltar para buscar-nos, sem o quê eu não conseguiria ter regressado ao trabalho na quarta-feira de manhã. Foi uma viagem muito mais rápida do que a vinda, pelo menos para mim. Afinal, dormi o caminho todo.
No próximo post, o festival propriamente dito e o porquê de estes dias não terem sido como pareceria à primeira vista uma desgraça total (pelo contrário). Não percam porque ouvi dizer que este é que vai ser mesmo giro.
domingo, agosto 13, 2006
Sagres Surf Festival
quinta-feira, agosto 10, 2006
O Regresso do S.
O símbolo acima e o senhor por detrás dele voltam hoje às salas de cinema portuguesas com um novo filme, depois de largos anos de interregno.
Se estão a pensar ir ver, força que pelas críticas este regresso até nem é mau. Se não vão ou se simplesmente mal conseguem esperar para ver uma figura de emblema ao peito a cruzar os céus a alta velocidade, também podem espreitar aqui.
segunda-feira, agosto 07, 2006
Jonathan Strange & Mr. Norrel
No início do século XIX, a Magia desaparecera havia tempo de Inglaterra. John Uskglass, o Rei Corvo, rei-feiticeiro de metade de Inglaterra, há muito se afastara, assim como as fadas se haviam retirado de volta a Faerie.
Acabei de ler Jonathan Strange & Mr. Norrel. O livro relata os esforços destes dois personagens, dois feiticeiros numa terra onde a única magia presente é a teórica, para restaurar a Magia Inglesa à sua antiga forma. Primeiro como aluno e mentor, depois como rivais, Strange e Norrel são mostrados como duas personalidades e visões distintas que inevitavelmente entrarão em conflito, mas que partilham fervorosamente da mesma paixão: a Magia.
Susanna Clarke dá-nos nesta sua primeira obra um surpreendente retrato de uma Inglaterra alternativa, com a Magia irrevogavelmente impregnada na sua história. Surpreendente tanto pela sua minúcia como pela verosimilhança; conseguimos acreditar que foi assim que Wellington venceu Napoleão, com o auxílio de frotas ilusórias ou enredando os exércitos franceses em marchas intermináveis por estradas que se tornavam labirintos. Acreditamos que existiram numerosos cavalheiros estudiosos de Magia, que publicavam cuidadosa e profusamente as suas descobertas, e que tinham como ajudantes essas perigosas criaturas, as fadas. Que por todo lado estradas ligavam Inglaterra às terras encantadas de Faerie. A Magia criada por Clarke tem um cunho muito próprio, é quase uma gentleman’s magic, que apesar de desaparecida, faz parte integrante do mundo a que pertence.
Mas não é preciso gostar de livros sobre magia e o fantástico para apreciar Jonathan Strange & Mr. Norrel. A exploração de uma paisagem histórica tão rica e personagens diversos, a sua interacção e a sua evolução são atractivos mais que suficientes para que esta seja uma estória a ler e, pelo menos no meu caso, a saborear.
Fiquei várias vezes acordado até às tantas para o acabar, que é coisa que já não fazia há algum tempo. E mesmo assim, apetecia-me mais. Como diz um dos elogios na contracapa, é possível um livro de 800 páginas parecer pequeno demais.
quinta-feira, agosto 03, 2006
A Gosto
Férias em Agosto sempre foi coisa que não me seduziu por aí além. A maioria das famílias, certamente empurrada pelas férias escolares das criancinhas, tem o seu ripanço anual encaixado neste período. Longas (a roçar o interminável) filas para a praia substituem o trânsito para Lisboa, porque ninguém vai trabalhar. Isso implica praias (ainda mais) cheias e acesso livre para Almada. Bom para mim. Porque assim não fico com pena de não estar a torrar ao sol e se torna mais fácil vir trabalhar.
Prefiro as férias antes ou depois. Ou, como no caso deste ano, repartidas entre antes e depois. Já gozei metade, e daqui a trinta dias gozo o resto. No intervalo, gozo com aqueles que stressam mais tempo na fila de trânsito para a Fonte da Telha do que quando vão para o emprego.
E por falar nas praias da Fonte da Telha, já era tempo dos organismos competentes fazerem alguma coisa em relação aos acessos às praias, especialmente à estrada florestal. Conhecida também com “Via dos Masoquistas” ou “Estrada da Sauna” (devido ao calor que se apanha dentro das carros, claro), é um verdadeiro pesadelo, mesmo fora de Agosto. Basta um carro mal estacionado para travar o fluxo automóvel por umas duas horas. Aproveito para deixar saudações aos palhaços que sabendo disto não se preocupam minimamente onde deixam a lata, desde que possam ir pôr o rabo de molho.
Eu gosto de Agosto. E até tiraria férias neste mês se fosse apanhar um avião para paragens longínquas e exóticas. Mas como fico por cá mesmo, prefiro o ar condicionado do escritório, por enquanto. É um descanso.
quinta-feira, julho 27, 2006
A ti
quarta-feira, julho 26, 2006
Asas Eléctricas
Dancei. Foi uma experiência única. Cada vez que o faço é uma experiência única.
Dançar faz-me falta. Quando danço esqueço tudo, entro num estado diferente, sem precisar de álcool, pastilhas ou outro tipo de drogas. Sou só eu e a pista, unidos pela música que se entranha e me invade até abarcar tudo de mim. Posso estar com amigos, com as pessoas de quem gosto, mas em última análise dançar para mim é uma experiência extremamente egoísta, porque saio do espaço onde estou, vou sozinho para outro lugar, onde as harmonias me animam, me guiam sem pensamento consciente. Deixo o corpo fluir, pairar, seguir as correntes de música que criam caminhos para os meus membros, enquanto conduzem quaisquer pesos que possam existir na minha mente para longe de mim.
Mas transpiro. Quando danço desfaço-me em água. E mexo-me muito, gesticulo; preciso de espaço à minha volta ou acabo sempre por atingir algo ou alguém.
Se é chato ficar todo encharcado, habituei-me a isso há algum tempo atrás, e já não me faz confusão. E se sei que há quem ache ridículo e até goze com a maneira como me mexo, outros há que gostam de me ver dançar. No fundo não interessa; danço para mim. É a forma como sinto a música, e dançar de outra maneira significaria não estar a ser verdadeiro comigo mesmo.
Dançar faz-me sentir bem. Dá-me asas quando não as tenho, asas eléctricas de luzes e sons que gostaria de ter sempre. Isso não é possível, claro. Ninguém está constantemente lá em cima.
Mas pelo menos na pista, voo.
sexta-feira, julho 14, 2006
Trabalho
quarta-feira, julho 12, 2006
Megaclash of the Cardslinger Titans
quarta-feira, julho 05, 2006
Bola de Neve
“Estás muito mudado, sim senhor…”, dirão alguns. “A preocupares-te por não ver um jogo de futebol, e ainda por cima por ires para a neve. Deves ter ficado rico, de repente…”
As respostas a isto são, por ordem:
“Não, não estou.”
“Não devo ver o jogo de qualquer maneira.” e
“Era bom, era.”
Ok, vou mais uma vez para as cartas no próximo Sábado. “Snow Style”. E se Portugal não for à final, isso quer dizer que vai jogar no Sábado para disputar o terceiro lugar, o que por sua vez implica que metade dos meus potenciais oponentes (os non-geeks) vai ficar em casa a ver televisão. E menos pessoas significa menos jogos com as minhas cartas novas, e menos diversão para a minha pessoa.
Para eu ter um Sábado mais divertido, a nossa Selecção tem de ganhar o jogo hoje. Por isso vá lá, rapazes. Força nessas pernas, e dêem mais uma alegria a Portugal. E a mim.
FORÇA, PORTUGAL!
quinta-feira, junho 29, 2006
Irmãos
A vocês, Mana e Mano, obrigado por o serem.
Obrigado a ti, Mana Querida, por estares lá sempre e apoiares, e te preocupares comigo. Apesar das brigas de putos, e das dentadas, que já lá vão. Graças a isso, também. Por teres partilhado da minha infância e teres emergido dela a pessoa linda que és, e por saber que sempre poderei contar contigo. Por seres uma Irmã na verdadeira acepção da palavra, e não apenas a filha dos mesmos pais que eu.
Obrigado a ti, Mano Puto Mais Novo, por ter em ti talvez o mais próximo de um filho que alguma vez terei. Por te ter visto crescer de bebé minúsculo a gajo grande, e porque apesar disso sempre olharei para ti e verei o Puto, mesmo quando eu tiver 85 e tu 70. Agradeço ter-te podido contar histórias para adormecer. Agradeço ter brincado contigo como se tivesse a tua idade. E agradeço ver pelo menos algumas partes de mim reflectidas em ti.
Obrigado aos dois, por aguentarem e aumentarem as minhas palhaçadas, e por ser sempre bom estar ao pé de ambos. Mais importante, obrigado por juntamente com os nossos Pais constituírem o núcleo de pessoas a quem chamo Família. Eu não seria o mesmo sem vocês ao meu lado.
domingo, junho 25, 2006
Pride
Acho bem. Assim os homossexuais portugueses podem aparecer perante a sociedade em geral, defendendo a obtenção de direitos que não possuem só por não pertencer à chamada normalidade.
Acho mal. Porque uma pessoa não se deveria orgulhar de ser homossexual, como de se orgulhar de ser branca, escrever com a mão direita ou gostar de esparguete. Quando isso passa para os outros de forma prepotente, está-se a estigmatizar mais os homossexuais e a separá-los dos que não o são.
Apesar das minhas opiniões contrárias (e portanto não apoiar nem deixar de apoiar o Pride), e porque ser homossexual faz parte daquilo que sou, deixo aqui algo que escrevi há alguns anos e que muitos de vocês já viram anteriormente. Mas apeteceu-me, por isso façam-me a vontade.
Há muito tempo atrás, após a criação do mundo, anjos deambulavam pela terra, ajudando os mortais com as suas vidas, sem que estes se apercebessem. Deus havia criado o Homem e a Mulher, e tudo era com havia sido destinado, e eles complementavam-se um ao outro. Mas um dia, um anjo percebeu que não era igual aos outros anjos. Haviam anjos femininos e anjos masculinos, e ao contrário da noção que hoje temos deles, conheciam o amor, um amor puro e espiritual, uns pelos outros. O anjo apercebeu-se de que não desejava os anjos femininos, mas que a sua alma procurava outros como ele. E isso atormentava-o, porque não era assim que deveria ser. Quando os outros anjos se aperceberam, ficaram chocados e furiosos. Deus não os fizera assim; não era natural e não o tolerariam. Ele foi condenado a deixar o seu estado imortal, banido para o mundo abaixo, para terminar os seus dias como um homem comum, esquecido para sempre. Tiraram-lhe as asas, deixando só as cicatrizes nas suas costas, e deixaram-no só, solitário numa terra onde não havia ninguém como ele...
Mas Deus contemplou o seu anjo, e teve pena dele, pois era puro e bom, e não era culpado por ser diferente dos outros anjos. Tomou as asas que outrora haviam estado nas costas do anjo e insuflou-lhes vida. Com um tremor, as asas dividiram-se em milhares de delicadas penas brancas, que foram carregadas pelas brisas suaves ao redor do mundo. Quando uma pena encontrava um homem sensível o suficiente para a tentar alcançar, transformava-o, tornando-o uno com o anjo, tornando-o como ele, e então ele já não estava só...
As penas estão soltas pelo mundo desde então, vagueando, pairando... Esta é a razão porque, até ao dia de hoje, ninguém sabe porque um homem é gay; acontece tudo com o sussurro de uma pena... Mas as cicatrizes nas costas do anjo estão lá também, nas costas de cada um. Elas representam a queda de graça, e é por isso que as outras pessoas os excluem, repudiando-os, sem se aperceber de que até Deus nos deu a sua benção... àqueles gentis o suficiente para alcançar a pena...
quinta-feira, junho 22, 2006
À espera
Ontem jantámos com amigos. Depois ficámos só os dois, numa noite que foi uma tentativa de ambos de matar as saudades que, sabíamos, iriam aparecer logo no dia seguinte.
Mais do que o normal, vou ter saudades. Saudades de te ter bem. Saudades por não poder estar ao teu lado, e saber que precisas da minha presença. E saber que preciso da tua, porque te sentirias melhor se estivessemos juntos.
Vais ser operado amanhã. Os preparativos já estão feitos. Segundo o médico, é uma intervenção descomplicada. Por isso, agora é só esperar.
Mas já tenho saudades tuas, meu lindo... e uma vontade enorme de te abraçar outra vez com força e dizer que vai correr tudo bem. Porque sei que vai. Mas também sei que do teu ponto de vista as horas se vão esticar como nunca até começares a sentir a anestesia, amanhã de manhã...
Custa não poder dar-te a mão e ajudar a afastar os teus medos. Custa não poder neste momento olhar nos teus olhos e fazer-te sentir amado, como eu me sinto cada vez que olho nos teus, e protegido de tudo e de todos, sozinhos no nosso planeta...
Olha pela janela hoje à noite. As estrelas estarão lá, e no meio delas, estará a nossa. Estende a mão e apanha-a. Ela leva o meu beijo de boas noites e o meu sussuro... "Gosto de ti..."
quarta-feira, junho 21, 2006
And Now I'm Back / From Outer Space
Não que tivesse ido para fora. Ou melhor, se calhar até fui. Pra fora da minha rotina de escritório. Pra fora do espartilho que é às vezes estar sentado nesta cadeira.
Saí por uns dias da realidade de trabalho para estar somente na outra realidade, aquela onde estou com os amigos e não há horas para nada, a não ser as que impomos a nós mesmos. A companhia foi a melhor que poderia ter tido. Ter-te ao lado nas férias, partilhar tantos dias contigo, deitou nova luz sobre ti e sobre nós. E deu-me a certeza que nós não existe apenas em tempo de férias.
Regressei ao trabalho. Foram quinze dias, mas na maior parte deles, e fugindo à norma, esqueci-me completamente da existência do escritório. Apesar disso, ele não se esqueceu de mim. Havia literalmente uma pilha de trabalho na secretária à minha espera. Agora vou ter de tratar do reverso da medalha férias/trabalho, que é voltar a ter os assuntos em dia. Enfim...
Em paralelo e em perspectiva dos últimos tempos (porque as férias também servem para pôr as coisas em perspectiva), percebo que a minha própria realidade se vai alterando, e que as diferentes partes da minha vida, antes tão compartimentadas, se vão misturando. As fronteiras vão-se esbatendo e dissolvendo pouco a pouco. É um processo muito gradual, mas está lá. Amigas de longa data a quem conto a verdade, a mana e o namorado em relação de amizade, reuniões de amigos (tanto da minha parte como da dele) onde o outro vai, colegas que estiveram sentados ao nosso lado a comer bifanas, no dia das marchas sem que me aperceba, e mais importante, eu a sentir-me perfeitamente confortável acerca disso, traduzem o facto de eu estar a mudar.
Não digo que vou sair do armário no meu local de trabalho, e muito menos que me vou desfazer em trejeitos no escritório. Nem que vou chegar a casa amanhã e sentar os meus pais na sala para ter AQUELA conversa. Estou é, isso sim, a dizer que já não falo em sussurros cada vez que falo com um amigo pelo telemóvel. Que já não converso a medo no café acerca de assuntos privados com receio de que alguém possa ouvir a conversa. Que é natural, e não stressante, encontrar familiares ou colegas em contexto social quando estou com o namorado ou amigos do outro lado.
Talvez daqui a um tempo, não tão longínquo, eu deixe que os diferentes aspectos se misturem completamente. Se fizer sentido para mim. Talvez. Logo se vê.
terça-feira, junho 06, 2006
sábado, junho 03, 2006
quinta-feira, junho 01, 2006
A criança dentro de nós
A partir de agora, e se a coisa funcionar como deve ser, está na barra lateral um cartoon que vai actualizando regularmente. Sempre é diferente. E é alguma coisa para manter a nossa criança interior ocupada. Porque é sabido que uma criança sem nada para fazer só faz confusão.
quarta-feira, maio 31, 2006
Puzzle Porto
Nos tempos antigos, ou quando eu era uma criança, fui algumas vezes ao Porto. A minha avó paterna morava lá, e muito de quando em vez, porque não dava para mais, íamos visitá-la. Aquela cidade para mim era basicamente o Sítio Mais Longe, a terra lá bem nos confins de tudo. O Porto dessa época é para mim um sítio nebuloso. Era pequeno demais para reter até hoje mais do que alguns pormenores. Mas talvez por estar completamente fora da minha rotina, sei que parecia um lugar quase mágico.
O meu Porto de criança é um prédio antigo, com escadas de madeira de corrimões trabalhados em redor de um poço de escada largo, iluminado por uma clarabóia enorme. É um apartamento pequenino, com casa de banho ao fundo do corredor comum, e com vizinhos que moravam em águas furtadas e me ofereciam bolachas de uma lata. É a imagem de N.S. de Fátima de cima da mesa de cabeceira que me fascinava por brilhar no escuro. Sou eu e a mana sentados na relva de uma praça que não conheço, radiantes com os nossos novos óculos escuros de plástico. É arroz de polvo, cozinhado pela minha avó.
Mas a minha avó faleceu, e durante muito tempo deixei de ir ao Porto.
Quando voltei, já estava na faculdade. Visita de médico. E desde então fui lá algumas vezes, mas sempre de fugida. Nos tempos modernos, nunca fiquei mais do que dois dias seguidos na cidade, no máximo. Talvez por isso, o meu Porto dos tempos antigos esbateu-se, foi substituído por uma cidade escura, uma cidade fria.
A única excepção até há pouco a estas visitas inconsequentes foi há alguns anos. Dois dias com o M.FAP, que me levou a conhecer os Clérigos, a Casa de Serralves e o Palácio de Cristal, e me apresentou a parte temática do Porto (I remember – Hope you do to).
E chegamos a este fim de semana. Até ao A.R..
Chegámos Sexta de madrugada e voltámos Sábado à tarde. Não saímos à noite, porque ele tinha trabalho bem cedo, e além disso a viagem de comboio tinha sido cansativa. Só de manhã demos uma volta pela cidade, volta necessariamente rápida, mas que me surpreendeu. Sobretudo pelo facto de encontrar em pormenores e lugares uma porta para um Porto mágico que pode bem ser o meu Porto de criança.
Foto 1 – Um Néctar, por favor!
Um Compal de lata… já não via um destes há muito tempo, ainda mais num café. Ainda mais especial porque as mesas do café tinham tampos amovíveis que serviam de bandeja e encaixavam na mesa propriamente dita.
Foto 2 – Café no Majestic
Café do Porto por excelência, o Majestic é exactamente isso: majestoso. A atmosfera é fantástica, o decór fabuloso. E um sítio com esta mística acaba por fazer mais sentido aqui do que em Lisboa.
Acabo por perceber que o meu conhecimento da Cidade Invicta se assemelha a um puzzle. Cada vez que a visito, trago um bocadinho mais comigo, mais uma peça. Por enquanto ainda só tenho uma visão parcial da imagem geral. Mas as peças que trouxe da última vez fizeram-me achar que se calhar até vou gostar mais do quadro completo do que julguei a início. Talvez porque goste tanto de quem mas proporcionou.
segunda-feira, maio 22, 2006
Aleluia!!??
Estes simpáticos senhores são os vencedores da edição deste ano do Festival Eurovisão da Canção.
Se não perceberam, eu digo outra vez.
Estes senhores, oriundos da Finlândia, são os vencedores da edição deste ano do Festival Eurovisão da Canção.
Com a canção "Hard Rock Hallelujah", Mr. Lordi e amigos ficaram à frente de outros 23 países finalistas. Na minha opinião, a canção nem era das piores mas também não tinha interesse especial. Esta vitória, embora diga respeito a um mero concurso musical, acaba por ser mais um reflexo do actual estado das coisas. O foco deixou de incidir sobre a qualidade das canções, e agora o importante é toda a encenação que rodeia a interpretação. Looks over content.
E que raio de país é a Finlândia, que acha piada a ser representada num certame internacional por um punhado de demónios a debitar hard rock? Pode ser muito à frente, mas se isto acontecesse em Portugal, podem ter a certeza que mesmo aqueles que nem ligam grande coisa ao estado político ou económico do país iam fazer escarcéu. Por muito que o orgulho nacional seja diminuto e a canção até tenha ganho, uma vitória nestes moldes, onde se vence por um truque publicitário e não por mérito artístico, deve ter um travozinho a amargo.
Nunca pensei dizer isto, mas minhas ricas Non Stop... Mesmo que as canções tenham o mesmo nível de qualidade, ao menos é muito menos doloroso olhar para elas.
domingo, maio 21, 2006
A noite dos museus
Começámos pelo Museu Nacional dos Coches. Aí tínhamos como atracção uma banda, que tocava Blues. Não muito apropriado ao espaço em questão, mas ao mesmo tempo uma mistura agradável. Pena que tivéssemos chegado quase no fim da actuação, mas aproveitámos para ver a exposição propriamente dita. Que tem peças bastante interessantes, diga-se; não só coches, mas também algumas outras peças, pinturas e apetrechos vários relacionados com cavalos e carruagens. É um museu não muito grande, mas agradável.
Depois, e como a noite avançava, demos um salto ao Museu Nacional de Arqueologia, nos Jerónimos. Aí supostamente teríamos direito a visita guiada com guia privativo, mas aproximava-se a hora de fechar (que ontem foi à uma da manhã), e só tivemos tempo para uma visita relâmpago. Que também foi interessante. Tive pena de não ver tudo, e tenho de lá voltar.
Terminámos a noite dos museus num dos Claustros dos Jerónimos, onde se fazia uma mostra interactiva de danças tradicionais (que o meu pai teria adorado, mas que foi interessante para mim também), em conjunto com uma feira de produtos tradicionais. A ginginha era excelente, e o copo (de chocolate) melhor ainda.
Foi uma mudança de cenário interessante. Só é pena que tenha de haver iniciativas destas para que me obrigue a visitar os nossos museus. Em Barcelona, na semana que lá estive, visitei tantos museus como certamente já visitei em largos anos em Portugal. É puro comodismo, e estupidez. Podia aproveita muito mais. Mas não sou o único. No nosso país, infelizmente, essa é a regra. Com um património tão vasto como o que temos, é pena que a maioria simplesmente o ignore, e acabe por não conhecer o seu passado. É quase como ignorar quem foram os nossos pais...
quinta-feira, maio 18, 2006
Recarregar Baterias II
Senti-me muito bem contigo ontem... como aliás tem sido a regra ultimamente.
quarta-feira, maio 17, 2006
Ser Verde
A 16 de Maio de 1990, há 16 anos atrás, deixou-nos Jim Henson.
Criador e força impulsionadora dos Marretas, Henson possuía um toque mágico, transformando marionetas em seres vivos, trazendo até nós um sentido de humor muito próprio, permeado de inocência até nos seus personagens mais extremos. Todo o seu trabalho reflectia amizade, magia, amor pelo que fazia; tudo isso passava para aqueles que como eu assistiam ao seu trabalho, e que foram de um modo ou de outro tocados por ele.
Uma prova da maneira positiva como Henson tocou o íntimo de muitos, se for necessária alguma, está nas cerimónias fúnebres que honraram a sua morte. Em perfeita harmonia com a sua vida, os seus colegas e amigos homenagearam-no da maneira que, tenho a certeza, ele teria achado a mais natural, como se pode ver por este relato:
"No final do funeral, Frank Oz falava. Subitamente, levantou a marioneta do Cocas e começou a cantar uma canção chamada “Uma Voz”. Todos os bonecreiros presentes, que afinal tinham trazido consigo as suas marionetas para a cerimónia fúnebre, revelaram-nas, e quando nos virámos e olhámos para trás, lá estavam cinquenta marionetas cantando também. Depois, o Big Bird desceu o corredor da Catedral de Saint Paul e todos eles avançaram, aquele grupo enorme de marionetas cantando em coro… Foi um acontecimento extraordinário..."
Também eu tenho Henson como parte da minha história, também uma parte dele está lá guardada. Os Marretas são uma das minhas mais antigas, senão a mais antiga, memória televisiva. Numa televisão ainda a preto e branco (e por favor, tentem ignorar o que isto diz acerca da minha idade) era levado aos bastidores de um espectáculo muito louco, que começava logo com um ponto alto no próprio genérico: muito antes de aparecer a corrida dos Simpsons para o seu sofá, houveram os momentos em que Gonzo, o Magnífico soprava o seu trompete, e o imprevisto hilariante acontecia, semana após semana. Desde Porcos no Espaço, as “piadas” do urso Fozzy, o Chefe Sueco, até aos Velhos no seu camarote que tudo demoliam com comentários corrosivos, tudo contribuía para me fascinar do princípio ao fim.
Quero agradecer a Jim Henson por ajudar a povoar o meu imaginário. E por transmitir mensagens que interessam não só a crianças, mas a todos nós, ainda e sempre.
Deixo no final deste post uma canção interpretada originalmente por Jim Henson, emprestando a voz ao seu personagem mais famoso, o sapo Cocas. É uma canção simples… e que me faz sentir bem comigo próprio. Espero que também faça o mesmo por vocês.
Bein' Green
It's not that easy bein' green
Having to spend each day the color of the leaves
When I think it could be nicer bein' red or yellow or gold
Or something much more colorful like that
It's not easy bein' green
It seems you blend in with so many other ordinary things
And people tend to pass you over 'cause you're
Not standin' out like flashy sparkles on the water
Or stars in the sky
But green is the color of Spring
And green can be cool and friendly-like
And green can be big like an ocean
Or important like a mountain
Or tall like a tree
When green is all there is to be
It could make you wonder why
But why wonder, why wonder?
I am green and it'll do fine
It's beautiful
And I think it's what I want to be
And green can be big like an ocean
Or important like a mountain
Or tall like a tree
When green is all there is to be
It could make you wonder why
But why wonder, why wonder?
I am green and it'll do fine
It's beautiful
And I think it's what I want to be
quinta-feira, maio 11, 2006
Recarregar Baterias
É preciso recarregar baterias. Ganhar energias para recomeçar na manhã seguinte, descansar e descontrair falando e trocando experiências com aqueles de quem gostamos.
Mas e quando a outra pessoa está num estado igual ou pior que o nosso? Quando dormiu pouco e passou todo o dia em comboios e correrias, ou então simplesmente está enervado porque esteve o dia todo em casa sem saber o que inventar mais e acaba por descarregar parte do seu desconforto em nós?
Quando digo descarregar, não quer dizer que grite, ou que esperneie. Significa apenas que na sua óptica os seus problemas tomam precedência sobre todo o resto.
É complicado. Temos de respirar fundo, e pensar antes de abrir a boca. Dizer a nós mesmos que o outro não está a ser insensível aos nossos problemas, está simplesmente a reagir aos seus e espera de nós o que à partida esperaríamos dele. Que noutra noite qualquer quereria ouvir tudo o que tivéssemos para dizer. Custa um bocadinho, mas por vezes é isso mesmo que acontece.
Nessas ocasiões, é bom lembrar que uma relação não são só beijos e brincadeiras. Que às vezes é preciso aparar os golpes do outro, tentar entendê-lo mesmo que isso signifique esquecer por uns momentos o nosso próprio cansaço. Se isso acontecer de ambos os lados, e não for exclusivo de uma das partes, é perfeitamente aceitável. Num mundo perfeito, todos se entenderiam automaticamente, mas no mundo real, há que tentar compreender, dar apoio, até relevar algumas palavras ditas para que as coisas resultem.
Talvez nessa noite sejamos nós a fazer o papel de ouvinte, mas se soubermos que quando a situação se inverter seremos ouvidos, podemos descansar.
segunda-feira, maio 08, 2006
Eu na TV
Para quem estiver interessado em ver, ainda não avisaram… mas passou hoje.
Também não perderam muita coisa… a minha família não teve muito tempo de antena, porque os outros ganharam quase tudo. E das vezes que apareci, foi quase como figurante, porque não disse mais do que uma palavra de cada vez. É claro que mesmo assim posso ser contratado para fazer um filme mudo, caso estejam a pensar em realizar algum…
É que à boa tradição cá do je, cada vez que a câmara pousava em mim, lá estava eu com bichos carpinteiros, sem saber bem como estar. Ora punha as mãos atrás das costas, ora em cima da bancada, ora acenava enfaticamente a cada pergunta não dirigida do sr. Fernando Mendes… Um exemplo vivo de como se pode pensar que se está à vontade e depois de ver percebemos que afinal tínhamos eléctrodos miniatura a aplicar choques alternados de corrente contínua…
Ah, e a pergunta que me calhou em sorte ser o primeiro a responder tinha como resposta mais dada a palavra “seios”. Como podem ver, o destino conspirou contra mim. Podia ter-me saído alguma coisa que fizesse parte do meu círculo de interesses.
Lá em casa gravou-se o programa, amigos… mas não me parece que a auto-censura vá deixar passar a gravação para o exterior.
quinta-feira, maio 04, 2006
Cativa(ste)-me
"- Não posso ir brincar contigo - disse a raposa. - Não me cativaste...
(...)
O que é que «cativar» quer dizer?
- É uma coisa que toda a gente se esqueceu - disse a raposa. - Quer dizer que se está ligado a alguém, que se criaram laços com alguém.
- Laços?
- Sim, laços - disse a raposa. - Ora vê: por enquanto, para mim, tu não és senão um rapazinho perfeitamente igual a outros cem mil rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Por enquanto, para ti, eu não sou senão uma raposa igual a outras cem mil raposas. Mas, se tu me cativares, passamos a precisar um do outro. Passas a ser único no mundo para mim. E, para ti, eu também passo a ser única no mundo...
- Parece-me que estou a começar a perceber - disse o principezinho. - Sabes, há uma certa flor... tenho a impressão que me cativou...
- É bem possível - disse a raposa. - Vê-se cada coisa cá na terra...
(...)
- Tenho uma vida terrivelmente monótona. Eu, caço galinhas e os homens, caçam-me a mim. As galinhas são todas iguais umas às outras e os homens são todos iguais uns aos outros. Por isso, às vezes, aborreço-me um bocado. Mas, se tu me cativares, a minha vida fica cheia de Sol. Fico a conhecer uns passos diferentes de todos os outros passos. Os outros passos fazem-me fugir para debaixo da terra. Os teus hão-de chamar-me para fora da toca, como uma música. E depois, olha! Estás a ver, ali adiante, aqueles campos de trigo? Eu não como pão e, por isso, o trigo não me serve para nada. Os campos de trigo não me fazem lembrar de nada. E é uma triste coisa! Mas os teus cabelos são da cor do ouro. Então, quando eu estiver presa a ti, vai ser maravilhoso! Como o trigo é dourado, há-de fazer-me lembrar de ti. E hei-de gostar do barulho do vento a bater no trigo...
A raposa calou-se e ficou a olhar durante muito tempo para o principezinho.
- Por favor... cativa-me! - acabou finalmente por dizer.
- Eu bem gostava - respondeu o principezinho - mas não tenho muito tempo. Tenho amigos para descobrir e uma data de coisas para conhecer...
- Só conhecemos as coisas que cativamos - disse a raposa. - Os homens, agora, já não têm tempo para conhecer nada. Compram as coisas já feitas nos vendedores. Mas como não há vendedores de amigos, os homens já não têm amigos. Se queres um amigo, cativa-me!
- E o que é que é preciso fazer? - perguntou o principezinho.
- É preciso ter muita paciência. Primeiro, sentas-te um bocadinho afastado de mim, assim em cima da relva. Eu olho para ti pelo canto do olho e tu não dizes nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas todos os dias te podes sentar um bocadinho mais perto...
O principezinho voltou no dia seguinte.
- Era melhor teres vindo à mesma hora - disse a raposa. Se vieres, por exemplo, às quatro horas, às três, já eu começo a ser feliz. E quanto mais perto for da hora, mais feliz me sentirei. Às quatro em ponto já hei-de estar toda agitada e inquieta: é o preço da felicidade! Mas se chegares a uma hora qualquer, eu nunca saberei a que horas é que hei-de começar a arranjar o meu coração, a vesti-lo, a pô-lo bonito... São precisos rituais.
(...)
Foi assim que o pricipezinho cativou a raposa. E quando chegou a hora da despedida:
- Ai! - exclamou a raposa - Ai que me vou pôr a chorar...
- A culpa é tua - disse o principezinho. - Eu bem não queria que te acontecesse mal nenhum, mas tu quiseste que eu te cativasse...
- Pois quis - disse a raposa.
- Mas agora vais-te pôr a chorar! - disse o principezinho.
- Pois vou - disse a raposa.
- Então não ganhaste nada com isso!
- Ai isso é que ganhei! - disse a raposa. - Por causa da cor do trigo...
- Anda, vai ver outra vez as rosas. Vais perceber que a tua é única no mundo. Quando vieres ter comigo, dou-te um presente de despedida: conto-te um segredo.
(...)
- Adeus...
- Adeus - disse a raposa. - Vou-te contar o tal segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos...
- O essencial é invisível para os olhos - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.
- Foi o tempo que tu perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.
- Os homens já se esqueceram desta verdade - disse a raposa. - Mas tu não te deves esquecer dela. Ficas responsável para todo o sempre por aquilo que cativas. Tu és responsável pela tua rosa...
- Sou responsável pela minha rosa... - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer."
O Principezinho, Antoine de Saint-Exupéry
terça-feira, maio 02, 2006
segunda-feira, abril 24, 2006
Dois Aniversários
Depois de um dia de Sábado a jogar Magic (sim, já passaram quatro meses desde a última vez), fui a um jantar de anos. Um jantar especial, porque se comemorava o aniversário do A.R..
A maior parte das pessoas importantes para o A.R. estava presente (e algumas delas são muito importantes para mim também). Foi um convívio muito agradável, mas o melhor foi mesmo ver o brilho nos olhos dele. Estava feliz. Muito, muito feliz. Apesar de algo que lhe faz muita falta. Apesar de algumas desilusões. Apesar da relutância em entrar nos trintas. Apesar de tudo isso, estava rodeado de amigos, de gente que lhe quer bem. Que mais se pode querer como presente de aniversário?
Depois do restaurante de comida indiana-barra-italiana, karaoke no Bairro Alto. Cantou a mana e um amigo do A.R., cantei eu e finalmente cantou ele. Eu sei que aquela música tem um significado para ti. E também sei que toda a gente te ouviu, até aqueles que não estavam presentes.
Acabámos a noite no MG. Depois de termos estado com os amigos dele, estivemos com os meus.
E só houve tempo de dormir, e passou-se ao segundo aniversário. Aí aconteceram duas coisas dignas de nota.
Primeiro: a S. fez festa!
É uma evolução, Amiga. Adorei o teu lanche, e adorei perceber que estavas perfeitamente à vontade no papel da anfitriã que tem prazer de receber os amigos em sua casa.
E numa nota privada, gostei muito do que me mostraste. Ficou muito bem e tens mais coragem do que eu.
Segundo: levei o A.R.. Como meu namorado, ainda que não abertamente.
Isto não quer dizer que estivemos de mãos dadas. Nem que o tratei de forma especial, para além de amigo. Mas percebe-se perfeitamente a intimidade. Percebe-se, pelas conversas que não estão lá. Pelos gestos que quase fazemos. E há sempre um ou dois olhares fugazes que não dão para disfarçar.
Não sei o que as outras pessoas presentes pensaram. Talvez tenham notado, mesmo porque nunca levei ninguém, em todos estes anos, e consequentemente estávamos os dois sob escrutínio. Mas se não quero chocar sensibilidades, também já estou cansado de viver a minha vida em função do que os outros sentem. Apeteceu-me levá-lo comigo. Gostei de tê-lo ao lado, e sei que da mesma maneira que ele faz questão de partilhar comigo cada parte da sua vida, também é importante para ele sentir-se integrado nos vários aspectos da minha. Se para isso tenho de dar a entender alguma coisa, tanto pior. Até porque as pessoas que me conheciam ali já tinham mais do que tempo de, se não saber, pelo menos suspeitar. E é a minha vida. Não a dos outros.
quinta-feira, abril 20, 2006
Em Família
Há uns largos anos, havia um concurso na RTP apresentado por Fialho Gouveia, chamado Entre Famílias. Foi a primeira vez que assisti à gravação de um programa; um dos meus colegas de escola foi participar e o pessoal foi todo convidado. Basicamente, tratava-se de um duelo entre membros de duas famílias diferentes, respondendo a questões baseadas em inquéritos feitos a cem pessoas distintas. As respostas dadas não deverão ser o que está certo, mas o que essas pessoas responderam.
O programa “Em Família”, iniciado recentemente, tem a mesma mecânica de jogo. O apresentador, para aqueles que trabalham e não estão em casa às 7 da tarde (ou não estão para ver pessegadas), é o sr. Fernando Mendes. Gordinho, baixinho, engraçadinho (de piadas, claro, não de aspecto), simpático. Pronto.
Semanas atrás, fui com a mana e vários primos a um casting. Foi uma experiência divertida. Já tinha ido a outro, para o programa das sopas, mas este foi em conjunto e logo teve o dobro da piada. Pelos vistos não devemos ter feito muito má figura, porque nos chamaram para participar no programa (ou isso ou tinham falta de equipas, mas prefiro pensar que foi pela nossa disposição cintilante e apurado sentido de jogo).
A gravação foi num estúdio da RTP algures em Lisboa. Fomos penteados e maquilhados depois de algumas horas de espera. A minha pele, e não me estou a queixar, nunca tinha estado com um tom tão uniforme; espero que pareça natural, na televisão. Devo parecer mais gordo uns sete quilos, segundo o que me disseram. Ao menos vou aparentar um peso de gente.
Fomos encaminhados ao estúdio e briefados (vem de briefing – em inglês é mais caro). Os nossos oponentes eram simpáticos, e como nós estavam ali para se divertir. Começou a gravação, e logo se definiu um padrão: os outros estavam a sair-se melhor. Tentámos dar luta, mas em vão. Fomos eliminados. Foi a tragédia, o horror…
…ou nem por isso. A nossa prestação não foi fulgurante, mas apesar de estarmos a zeros quase até ao final não foi tão deprimente como se possa pensar. As respostas a dar são subjectivas e muitas vezes contra-intuitivas. Quando fizeram a pergunta “Ao que é que os portugueses são mais alérgicos?” ao grupo de teste, duas das respostas mais dadas foram Trabalho e Falta de dinheiro. Lógico, muito lógico.
A outra equipa foi à parte final do programa mas não conseguiu ganhar os 7.500€ que são o prémio final. Foi pena, e é um bocado frustrante morrer na praia. Por mim, saí de lá com 1/6 de 114€ (que vamos receber daqui a uns 6 meses) e uma torradeira. O dinheiro sempre vai dar para fazermos um jantar, e a torradeira, embora não a tenha experimentado, parece-me bastante boa. Nada mau, hein?
No fundo, foi fazer de maneira um pouco diferente o que fazemos em família quando temos ocasião, que é divertir-nos à volta de um jogo de tabuleiro como o Trivial Pursuit ou o Pictionary. O tabuleiro é que alterou um bocadinho, mas divertimo-nos na mesma.
terça-feira, abril 18, 2006
Frida
Tive ocasião de visitar uma das exposições patentes neste momento no Centro Cultural de Belém, onde me foi revelada a obra de Frida Kahlo.
Esta pintora mexicana deixou-nos um legado ímpar. A nível artístico, e a nível pessoal. A sua arte acabava por ser mesmo a sua vida, retratando-a, exorcizando-a, completando um mundo sempre centrado na sua solidão e na dor constante. Vale a pena tentar perceber o ser humano que se esconde por detrás d'"A coluna partida", "Hospital Henry Ford", ou d'"Umas quantas facadinhas".
Por algum tempo, perdi-me por entre poemas em tela. Poemas que falam de agonia, mas também de coragem. Poemas de isolamento, e retratos daqueles que a rodeavam. Imagens surrealistas, que como ela própria dizia, não eram mais do que a sua realidade.
Mas cá fora, por entre as pessoas que visitavam a exposição, também houve algo que me chamou a atenção. Um casal passeava por entre as obras de arte juntamente com o filho, um miúdo dos seus 4, 5 anos. Mas ao contrário do frete usual da criança que vai atrás dos pais com suspiros de "QUERO IR EMBORA!" ou "QUERO IR FAZER XIXI!", o miúdo parecia estar a gostar verdadeiramente de estar ali. Talvez porque em vez de o tratarem com condescendência, os pais lhe fossem explicando cada quadro em termos apropriados à sua idade. A maturidade e complexidade dos temas retratados não os demoveram, e ainda bem. Acho que ficou provado que as crianças não são fracas de espírito, talvez exactamente quando não os tratamos como tal. Tenho a certeza que da mesma forma que me senti enriquecido quando saí, também aquele puto beneficiou do toque de Frida.