sábado, janeiro 21, 2006
Encartado
Amanhã de manhã tenho de me levantar cedo. Provavelmente vou-me levantar antes da hora a que acordo aos dias de semana. E para quê, levantar-me tão cedo a um Sábado?
Ora, para ir jogar às cartas, claro.
Há uns anos, andava eu na faculdade, cruzei-me com um jogo um bocado estranho para a altura. Uns tipos lá do sítio andavam com uns baralhos de cartas que não lembravam nada o jogo da sueca. Cada um desses baralhos tinha cartas diferentes, com desenhos fantásticos, e com palavreado que para mim na altura queria dizer muito pouco.
Vi-os jogar uma ou duas vezes. Aquilo interessou-me; sempre fui virado para a fantasia, para criações que nada tinham a ver com a realidade. E ali estava um jogo que juntava essa vertente com uma parte táctica. Tinha de se pensar para ganhar. Tinha que se ser mais esperto do que o adversário. E eu, que nunca fui muito dado a competições porque sempre fui uma nódoa a desportos físicos, podia jogar.
Comprei um starter deck, basicamente um conjunto aleatório de cartas, e com elas fiz o meu primeiro baralho. Não era grande coisa. Com tão poucas cartas por onde escolher, e com a minha experiência nula para perceber o que escolher, não admira. Mas era o meu baralho. Agora podia experimentar, jogar com os outros. E foi o que fiz.
Tirando os meus colegas de turma, os meus parceiros de Magic: The Gathering devem ter sido as únicas pessoas com que me relacionei na faculdade. E era excelente, juntar-me a eles horas no bar ou num dos átrios a jogar ou a trocar cartas. Era um hobby partilhado, um elo em comum com outras pessoas que gostavam de fazer o mesmo que eu. Nessa altura, isso tinha uma importância extrema. Era a sensação de pertencer a um grupo. A maior parte das pessoas tem essa fase mais cedo, no início da adolescência. Eu nunca tive. Sempre fui extremamente fechado. E como tinha outras partes da minha vida que não podia partilhar com ninguém, o que me fazia fechar ainda mais, talvez essa junção a um colectivo me tenha ajudado a manter um contacto social, se não activo, pelo menos descontraído.
Joguei. Comecei a comprar mais cartas, a aperfeiçoar baralhos e estratégias. Encontrei uma loja que era quase um clube de jogos, que passei a frequentar. Os donos eram porreiros, um deles era uma rapariga lindíssima que gostava de jogar (!) e seria das poucas que me levaria por maus caminhos (ai, Maria, Maria... :) ). Foi uma boa época.
A faculdade acabou. Há algum (bastante) tempo. A minha vida mudou, como é óbvio, e tempo e parceiros para jogar começaram a escassear. Deixei de comprar cartas a torto e a direito (o dinheiro que eu gastei em cartas!... que se lixe, tirei muito prazer delas) e deixei de fazer baralhos. Mas o bichinho ficou. Ainda gosto de jogar, de descobrir novas cartas, até de fingir que aqueles rectângulos de cartão em cima da mesa são criaturas verdadeiras que lutam umas com as outras em batalhas fantásticas.
Como fazer então, para jogar de vez em quando, para matar as saudades? Acabei por arranjar uma solução.
De tempos a tempos (geralmente de 4 em 4 meses) são lançadas novas cartas. No total, existem já largos milhares de cartas diferentes. Cada vez que é lançada uma nova expansão, fazem-se eventos de lançamento, os chamados pre-releases, com as cartas novas. E estes torneios funcionam numa base de sealed decks, ou seja, cada participante usa não cartas que trouxe de casa, mas cartas fornecidas pela organização (e que depois ficam para cada um), sendo o baralho com que cada um joga feito na altura. Pronto. Igualdade de circunstâncias para todos. Nada de trazer baralhos ultra-sofisticados. Nada de ter de comprar dezenas de starter decks e boosters para ter as cartas necessárias para um baralho afinado ao pormenor. Só perícia para retirar do conjunto de cartas que nos calharam em sorte um baralho que seja melhor que o dos outros. E o divertimento de perceber as mil e uma combinações das novas cartas entre si à medida que se vai jogando.
E pronto, é aí que eu vou estar daqui a umas horas. A comandar dragões, anjos e guerreiros numa batalha de proporções épicas. Ou a ser esmagado por uma horda de esquilos sanguinários. Nessas coisas, nunca se sabe.
Magic: The Gathering
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