segunda-feira, agosto 28, 2006

No Festival - Ah, e houve música...

Fui chamado à atenção e parece que sim, que me esqueci de um detalhe. No festival também houve música. Pelo menos acho que houve. Tal como a foto, a essência da música está tremida na minha memória.


O som foi supostamente de easy listening, cool, relaxed... Deve ter sido, e até um pouco demais, porque não houve nada que tivesse penetrado até ao "Tenho de ouvir isto". A música apenas conseguiu abanar-me ao de leve, fazer-me mexer um pouco ao sabor dela, a maior parte das vezes inconscientemente. Não foi forte a ponto de me arrastar para a frente do palco para vibrar com ela e com quem a fazia. Mas também, confirmou-se o que já tinha começado a suspeitar. Dos surfistas, gosto apenas do aspecto, e não é de todos, claro. O resto não me seduz por aí além, música incluída.


Já ouviram falar de publicidade enganosa? Não? Ainda bem, assim pode ser que não me processem. Ei, esta foi gira…

quinta-feira, agosto 24, 2006

No Festival - PDI(?)

Imaginem que estão no festival e que olham à vossa volta. Há montes de gente, o evento foi um êxito e o recinto encheu. Agora fixem-se numa cara apenas, uma cara qualquer. Quem olha de volta para vocês?

Em ambos os dias quase vazio a princípio, o parque de estacionamento da Fortaleza de Sagres terminou as noites a rebentar pelas costuras. Rebanhos de gente acotovelavam-se junto ao palco, nas barracas de comes e bebes, nos stands promocionais, por todo o lado. Quando falo em rebanhos, é propositadamente. Notava-se uma nota tribal neste conjunto de pessoas, que determinadas tribos estavam ali em força, com as suas características identificativas bem patentes. “Lembra-te que és único. Como toda a gente.”

Após uma análise superficial, mas que penso ser bastante exacta, a afluência na sua maioria pode resumir-se às seguintes categorias:

“Sou surfista e estou aqui com a minha prancha e a minha garina”
“Sou pita, mas mesmo, mesmo, mesmo pitinha, e estas são as minhas 15 amigas”
“Yaaahhhhh…. Ganda pedra, meu!
“Yaaahhhhh…. Ganda moca, bacano!
“Yaaahhhhh…. Ganda bezana, pá!
“Yaaahhhhh…. Ganda***”
(barulho de queda no chão, inconsciente)

Surpresa das surpresas, não me identifiquei com nenhuma delas.

O conjunto formado era bastante homogéneo, surpreendentemente. Uma massa de gente. Que se contorcia, e pulava ululante ao ritmo da música, ou talvez de nada. Que esbanjava energia cinética como se não houvesse amanhã. Tá-se bem. Afinal é o que eu faço cada vez que vou à discoteca. Mas eu guardo sempre um restinho de energia no fim. E não fico eléctrico por estar quimicamente feliz.

Houveram alturas, quando estava a ajudar o A.R., em que perguntei a mim próprio porque me irritava aquela gente frenética, que estava ali para curtir até mais não (de forma sexual ou não) e depois cair para o lado, sendo que a parte de cair era na maior parte dos casos obrigatória. Dei por mim a contemplar a hipótese de *gulp* ser por eu já não ter idade para aquelas maluqueiras.

É isso? Já estou velho e não dei por nada? Onde está o meu espírito de aventura, o meu amor pela agitação, pela diferença? Desapareceu com a idade?

Não acho que sofra de falta de espírito de aventura. Porque foram uma aventura, estes dois dias, e eu diverti-me. Pude é, isso sim, constatar que há multidões em que não me encaixo. Ou que não me encaixo em multidões, ponto. Que aquele mar de gente não é a minha praia.

Mas também tomei realmente consciência, talvez pela primeira vez na vida, de que há toda uma faixa etária em que já não me integro. Que veio depois de mim e que tem já uns quantos elementos que me são estranhos, que acho deslocados quando olho para o meu próprio passado.

Isso não é estar velho. É talvez perceber que já não sou o último modelo. Que há uma geração depois de mim, mais fresca, com certeza, com mais fome de tudo. Mas uma geração que não tem ainda o que já tenho. Não tem 30 anos de experiências com que contrastar o que lhe aparece no caminho, não sabe algumas coisas que se calhar já aprendi. E que essa geração, que neste momento se perde numa busca delirante pela sua identidade, há de encontrá-la um dia, ainda que provavelmente de forma diferente do que encontrei (encontro?) a minha.

Há tempo e espaço para todos nós neste mundo; felizmente sei que tenho os meus. E pesando tudo, até gosto bastante deles…

…mas se alguma vez estiver a falar com alguém e começar uma frase por “No meu tempo…” têm toda a liberdade para me dar um tiro de misericórdia.


Acho que afinal ainda vai haver mais um post em relação ao Festival. Por isso não percam, pode ser que esse é que seja giro. Nunca se sabe.

segunda-feira, agosto 21, 2006

No Festival - Bolachas e Tatuagens

Sagres é uma Vila de Surf. Por todo o lado se vêem Surf Shops, carros com pranchas no tejadilho, rapazes com prancha debaixo do braço. O parque de campismo estava carregado delas e respectivos donos. Ironicamente, o único sítio onde não vi pranchas nestes dois dias deve ter sido a praia, porque (dah) não fui lá. A escolha de Sagres para a realização do Festival pareceu-me assim extremamente acertada, tanto do ponto de vista temático como logístico.

O recinto do Festival também foi bem pensado. Em vez do palco no meio de nenhures que mais ou menos esperava encontrar, deparei com um complexo bem montado, mesmo dentro da vila. Com a fortaleza de Sagres como pano de fundo, e utilizando o parque de estacionamento da mesma como área do festival (para que é que a fortaleza precisa de um parque de estacionamento tão grande, não faço ideia), havia mais do que espaço suficiente para o palco, para todas as estruturas de apoio (Cruz Vermelha, bares, stands de comida, stands promocionais e casas de banho), e claro, para os espectadores.

Foi uma experiência nova, esta de entrar num recinto desta natureza, especialmente quando ainda estava quase vazio, com excepção do pessoal técnico e dos artistas, em pleno soundcheck. O A.R. e eu andámos um pouco por ali, com as nossas novas pulseiras rosa choque no pulso (eram as pulseiras que nos identificavam como parte do staff, não um fashion statement), a tomar café e a bisbilhotar, antes de começarmos a trabalhar, ou mais propriamente, ele a trabalhar e eu a apoiar.

Estivemos no Stand da Chipmix, uma marca entre as outras presentes com espaços publicitários. Aí, juntamente com outras actividades e distribuição de bolachas, das quais acabei por trazer algumas (hei, são boas, o que é que querem? E depois se são de chocolate?), havia um espaço onde quem quisesse podia ficar com um desenho na pele, uma tatuagem temporária que saía passados uns três dias. O A.R. estava encarregue dos desenhos e eu de limpar pincéis, controlar a fila e registar o que ele fazia. Durante os dois dias, foram quase duzentas tatuagens, feitas entre algumas (escassas) pausas. Ficaram giras, e foram feitas em tempo record. Mais uma vez, pude comprovar que o namorado é bom naquilo que faz, em tudo o que se propõe a fazer. Mas isso eu já sabia.

O que não sabia, ou pelo menos não tinha certeza era se, com todos os contratempos que já descrevi, o balanço das mini-férias ia ser positivo.

A resposta, mais do que sim, é SIM.

O chão era duro, mas adorei acordar ao teu lado.
A noite era cerrada, mas adorei fazer o caminho de mão dada contigo no escuro.
O percurso foi longo e debaixo de sol, mas adorei transportar as malas lado a lado contigo.
O trabalho foi muito, mas adorei ajudar-te no que pude e sentir que ajudei por estar lá.

Nem tudo tem de ser como planeamos para ser bom. E se nas dificuldades estiverem dois, como estão nas alegrias, então as coisas já não são tão difíceis.

Adoro-te. Em Sagres ou noutro lado qualquer.


E no próximo post, dúvidas existenciais. Não percam mesmo porque é capaz de ser o último, e já me disseram que este é que vai ser giro.

quinta-feira, agosto 17, 2006

No Festival - Vingança Kármica

No Domingo, fui almoçar a casa da minha prima de Odivelas. Foi o aniversário dela e como é tradição reuniu-se grande parte da família, num daqueles almoços que sabem mesmo bem, tanto pela comida como pelo convívio que já não é tão frequente hoje em dia. Foi excelente, mas apesar de me custar um pouco sair de lá, tinha outra coisa boa à minha espera e consegui chegar a Almada sem muito atraso, para nos pormos os três a caminho dos Algarves.
Depois de um caminho naturalmente um pouco demorado mas sem incidentes, chegámos a Sagres e localizámos o caminho da vila para o Parque. À beira dessa estrada, quase totalmente ocultos pela escuridão, caminhavam diversos vultos de pessoas que (percebia-se) estavam hospedadas no parque e pediam boleia para lá. Lembro-me de na altura pensar para mim mesmo “Não querias mais nada…”

Foi esse o meu erro.

Pelos vistos os poderes cósmicos até estão atentos, de vez em quando. “Ai gozas? Depois de te estarmos a dar um dia bom? Então espera aí…” É que chegados ao parque de campismo, e a tenda montada, a J. recebe um telefonema. Por motivos familiares, tem de voltar para Lisboa nessa mesma noite. E volta, e com ela o carro.

E o A.R. e eu ficamos no Parque de Campismo de Sagres, a 4 Km do mundo civilizado… apeados.

Viemos a Sagres para passear, mas também porque o A.R. ia trabalhar no festival nestes dois dias. Não podíamos voltar para Lisboa com a J., apesar de nos custar deixá-la ir sozinha. Assim, tivemos de nos arranjar sem transporte, e os planos para as mini-férias foram forçosamente alterados. Praia estava fora de questão, porque sem carro não dava tempo de ir e voltar e ainda estar prontos a tempo de trabalhar. Valeu-me o bronze adquirido nas caminhadas à beira da estrada. Discoteca também nem pensar, especialmente porque se tinha falado em ir à Kadoc, que apesar de ser no Algarve, ficava a mais de 100km… Contentei-me com o som do stand da Chipmix, que por acaso até não foi nada mau.

Custou. Os vários percursos entre a vila e o Parque foram violentos. Umas vezes porque estava um calor abrasador, outra por cauda da escuridão total, outra ainda (a última) porque viemos carregados com TODO o material de campismo, de trabalho e roupas, mas todos porque a distância era grande, sem passeio de jeito, por cima de uma berma de pedras ou alcatrão quando não haviam carros. O coitado do A.R., depois de vários destes trajectos, ainda tinha de trabalhar 8 horas praticamente seguidas. E como éramos (somos) maçaricos no campismo, não levámos qualquer tipo de colchão ou almofada, apenas os sacos cama, o que quer dizer que o nosso descanso deixou um pouco a desejar.

Adicionando o que está acima às refeições improvisadas, e à utilização dos sanitários comunais do Parque, quase parecia que estávamos a viver um fim de semana de recruta. As coisas não correram exactamente como estávamos à espera.

Finalmente, e felizmente, depois de acabarmos o trabalho na terça à noite quase à uma da manhã, a J. conseguiu voltar para buscar-nos, sem o quê eu não conseguiria ter regressado ao trabalho na quarta-feira de manhã. Foi uma viagem muito mais rápida do que a vinda, pelo menos para mim. Afinal, dormi o caminho todo.


No próximo post, o festival propriamente dito e o porquê de estes dias não terem sido como pareceria à primeira vista uma desgraça total (pelo contrário). Não percam porque ouvi dizer que este é que vai ser mesmo giro.

domingo, agosto 13, 2006

Sagres Surf Festival

Por aqui ultimam-se os preparativos para zarpar para Sagres, mais precisamente para a praia do Tonel. Felizmente os agouros não se concretizaram e com a graciosa colaboração da gerência segunda-feira vou trocar Almada pelo Algarve. Objectivo: Sagres Surf Festival.
Vão ser dois dias de "Surf Music", praia, campismo, disco, passeio e até trabalho. Em suma, vão ser o que se pode chamar de dois-dias-pra-valer-por-duas-semanas-de-férias-por-isso-vê-lá-se-aproveitas-bem.
Estou curioso em relação à música. Se música com inspiração no surf significa algo parecido a Beach Boys ou Jack Johnson, então vou gostar, mas considerando a disparidade entre estes dois exemplos, é melhor preparar-me para algo diferente.
Também estou curioso, e se calhar até um bocado mais, em relação ao ambiente. Nunca fui a um festival de música de Verão, o que parece quase uma heresia considerando o número de festivais que fazem o cartaz do nosso país actualmente. Não faço ideia do que é estar num evento desta natureza, vivê-lo, ainda que só por dois dias. Vai ser uma estreia.
Logo à noite pomo-nos a caminho, eu, o A.R. e a J.. Surf's up, dudes!

quinta-feira, agosto 10, 2006

O Regresso do S.


O símbolo acima e o senhor por detrás dele voltam hoje às salas de cinema portuguesas com um novo filme, depois de largos anos de interregno.

Se estão a pensar ir ver, força que pelas críticas este regresso até nem é mau. Se não vão ou se simplesmente mal conseguem esperar para ver uma figura de emblema ao peito a cruzar os céus a alta velocidade, também podem espreitar aqui.

segunda-feira, agosto 07, 2006

Jonathan Strange & Mr. Norrel











No início do século XIX, a Magia desaparecera havia tempo de Inglaterra. John Uskglass, o Rei Corvo, rei-feiticeiro de metade de Inglaterra, há muito se afastara, assim como as fadas se haviam retirado de volta a Faerie.

Acabei de ler Jonathan Strange & Mr. Norrel. O livro relata os esforços destes dois personagens, dois feiticeiros numa terra onde a única magia presente é a teórica, para restaurar a Magia Inglesa à sua antiga forma. Primeiro como aluno e mentor, depois como rivais, Strange e Norrel são mostrados como duas personalidades e visões distintas que inevitavelmente entrarão em conflito, mas que partilham fervorosamente da mesma paixão: a Magia.

Susanna Clarke dá-nos nesta sua primeira obra um surpreendente retrato de uma Inglaterra alternativa, com a Magia irrevogavelmente impregnada na sua história. Surpreendente tanto pela sua minúcia como pela verosimilhança; conseguimos acreditar que foi assim que Wellington venceu Napoleão, com o auxílio de frotas ilusórias ou enredando os exércitos franceses em marchas intermináveis por estradas que se tornavam labirintos. Acreditamos que existiram numerosos cavalheiros estudiosos de Magia, que publicavam cuidadosa e profusamente as suas descobertas, e que tinham como ajudantes essas perigosas criaturas, as fadas. Que por todo lado estradas ligavam Inglaterra às terras encantadas de Faerie. A Magia criada por Clarke tem um cunho muito próprio, é quase uma gentleman’s magic, que apesar de desaparecida, faz parte integrante do mundo a que pertence.

Mas não é preciso gostar de livros sobre magia e o fantástico para apreciar Jonathan Strange & Mr. Norrel. A exploração de uma paisagem histórica tão rica e personagens diversos, a sua interacção e a sua evolução são atractivos mais que suficientes para que esta seja uma estória a ler e, pelo menos no meu caso, a saborear.

Fiquei várias vezes acordado até às tantas para o acabar, que é coisa que já não fazia há algum tempo. E mesmo assim, apetecia-me mais. Como diz um dos elogios na contracapa, é possível um livro de 800 páginas parecer pequeno demais.

quinta-feira, agosto 03, 2006

A Gosto

Agosto já começou e trouxe consigo um tempo bem chocho. Mas está-se bem. Ao contrário da maior parte dos portugueses, tenho um único dia de férias marcado para este mês. E mesmo essa tentativa de me aproveitar do feriado de dia 15 com uma ponte poderá ser contrariada aqui pela gerência (grrrr….).

Férias em Agosto sempre foi coisa que não me seduziu por aí além. A maioria das famílias, certamente empurrada pelas férias escolares das criancinhas, tem o seu ripanço anual encaixado neste período. Longas (a roçar o interminável) filas para a praia substituem o trânsito para Lisboa, porque ninguém vai trabalhar. Isso implica praias (ainda mais) cheias e acesso livre para Almada. Bom para mim. Porque assim não fico com pena de não estar a torrar ao sol e se torna mais fácil vir trabalhar.

Prefiro as férias antes ou depois. Ou, como no caso deste ano, repartidas entre antes e depois. Já gozei metade, e daqui a trinta dias gozo o resto. No intervalo, gozo com aqueles que stressam mais tempo na fila de trânsito para a Fonte da Telha do que quando vão para o emprego.

E por falar nas praias da Fonte da Telha, já era tempo dos organismos competentes fazerem alguma coisa em relação aos acessos às praias, especialmente à estrada florestal. Conhecida também com “Via dos Masoquistas” ou “Estrada da Sauna” (devido ao calor que se apanha dentro das carros, claro), é um verdadeiro pesadelo, mesmo fora de Agosto. Basta um carro mal estacionado para travar o fluxo automóvel por umas duas horas. Aproveito para deixar saudações aos palhaços que sabendo disto não se preocupam minimamente onde deixam a lata, desde que possam ir pôr o rabo de molho.

Eu gosto de Agosto. E até tiraria férias neste mês se fosse apanhar um avião para paragens longínquas e exóticas. Mas como fico por cá mesmo, prefiro o ar condicionado do escritório, por enquanto. É um descanso.