Imaginem que estão no festival e que olham à vossa volta. Há montes de gente, o evento foi um êxito e o recinto encheu. Agora fixem-se numa cara apenas, uma cara qualquer. Quem olha de volta para vocês?
Em ambos os dias quase vazio a princípio, o parque de estacionamento da Fortaleza de Sagres terminou as noites a rebentar pelas costuras. Rebanhos de gente acotovelavam-se junto ao palco, nas barracas de comes e bebes, nos stands promocionais, por todo o lado. Quando falo em rebanhos, é propositadamente. Notava-se uma nota tribal neste conjunto de pessoas, que determinadas tribos estavam ali em força, com as suas características identificativas bem patentes. “Lembra-te que és único. Como toda a gente.”
Após uma análise superficial, mas que penso ser bastante exacta, a afluência na sua maioria pode resumir-se às seguintes categorias:
“Sou surfista e estou aqui com a minha prancha e a minha garina”
“Sou pita, mas mesmo, mesmo, mesmo pitinha, e estas são as minhas 15 amigas”
“Yaaahhhhh…. Ganda pedra, meu!
“Yaaahhhhh…. Ganda moca, bacano!
“Yaaahhhhh…. Ganda bezana, pá!
“Yaaahhhhh…. Ganda***” (barulho de queda no chão, inconsciente)
Surpresa das surpresas, não me identifiquei com nenhuma delas.
O conjunto formado era bastante homogéneo, surpreendentemente. Uma massa de gente. Que se contorcia, e pulava ululante ao ritmo da música, ou talvez de nada. Que esbanjava energia cinética como se não houvesse amanhã. Tá-se bem. Afinal é o que eu faço cada vez que vou à discoteca. Mas eu guardo sempre um restinho de energia no fim. E não fico eléctrico por estar quimicamente feliz.
Houveram alturas, quando estava a ajudar o A.R., em que perguntei a mim próprio porque me irritava aquela gente frenética, que estava ali para curtir até mais não (de forma sexual ou não) e depois cair para o lado, sendo que a parte de cair era na maior parte dos casos obrigatória. Dei por mim a contemplar a hipótese de *gulp* ser por eu já não ter idade para aquelas maluqueiras.
É isso? Já estou velho e não dei por nada? Onde está o meu espírito de aventura, o meu amor pela agitação, pela diferença? Desapareceu com a idade?
Não acho que sofra de falta de espírito de aventura. Porque foram uma aventura, estes dois dias, e eu diverti-me. Pude é, isso sim, constatar que há multidões em que não me encaixo. Ou que não me encaixo em multidões, ponto. Que aquele mar de gente não é a minha praia.
Mas também tomei realmente consciência, talvez pela primeira vez na vida, de que há toda uma faixa etária em que já não me integro. Que veio depois de mim e que tem já uns quantos elementos que me são estranhos, que acho deslocados quando olho para o meu próprio passado.
Isso não é estar velho. É talvez perceber que já não sou o último modelo. Que há uma geração depois de mim, mais fresca, com certeza, com mais fome de tudo. Mas uma geração que não tem ainda o que já tenho. Não tem 30 anos de experiências com que contrastar o que lhe aparece no caminho, não sabe algumas coisas que se calhar já aprendi. E que essa geração, que neste momento se perde numa busca delirante pela sua identidade, há de encontrá-la um dia, ainda que provavelmente de forma diferente do que encontrei (encontro?) a minha.
Há tempo e espaço para todos nós neste mundo; felizmente sei que tenho os meus. E pesando tudo, até gosto bastante deles…
…mas se alguma vez estiver a falar com alguém e começar uma frase por “No meu tempo…” têm toda a liberdade para me dar um tiro de misericórdia.
Acho que afinal ainda vai haver mais um post em relação ao Festival. Por isso não percam, pode ser que esse é que seja giro. Nunca se sabe.
Em ambos os dias quase vazio a princípio, o parque de estacionamento da Fortaleza de Sagres terminou as noites a rebentar pelas costuras. Rebanhos de gente acotovelavam-se junto ao palco, nas barracas de comes e bebes, nos stands promocionais, por todo o lado. Quando falo em rebanhos, é propositadamente. Notava-se uma nota tribal neste conjunto de pessoas, que determinadas tribos estavam ali em força, com as suas características identificativas bem patentes. “Lembra-te que és único. Como toda a gente.”
Após uma análise superficial, mas que penso ser bastante exacta, a afluência na sua maioria pode resumir-se às seguintes categorias:
“Sou surfista e estou aqui com a minha prancha e a minha garina”
“Sou pita, mas mesmo, mesmo, mesmo pitinha, e estas são as minhas 15 amigas”
“Yaaahhhhh…. Ganda pedra, meu!
“Yaaahhhhh…. Ganda moca, bacano!
“Yaaahhhhh…. Ganda bezana, pá!
“Yaaahhhhh…. Ganda***” (barulho de queda no chão, inconsciente)
Surpresa das surpresas, não me identifiquei com nenhuma delas.
O conjunto formado era bastante homogéneo, surpreendentemente. Uma massa de gente. Que se contorcia, e pulava ululante ao ritmo da música, ou talvez de nada. Que esbanjava energia cinética como se não houvesse amanhã. Tá-se bem. Afinal é o que eu faço cada vez que vou à discoteca. Mas eu guardo sempre um restinho de energia no fim. E não fico eléctrico por estar quimicamente feliz.
Houveram alturas, quando estava a ajudar o A.R., em que perguntei a mim próprio porque me irritava aquela gente frenética, que estava ali para curtir até mais não (de forma sexual ou não) e depois cair para o lado, sendo que a parte de cair era na maior parte dos casos obrigatória. Dei por mim a contemplar a hipótese de *gulp* ser por eu já não ter idade para aquelas maluqueiras.
É isso? Já estou velho e não dei por nada? Onde está o meu espírito de aventura, o meu amor pela agitação, pela diferença? Desapareceu com a idade?
Não acho que sofra de falta de espírito de aventura. Porque foram uma aventura, estes dois dias, e eu diverti-me. Pude é, isso sim, constatar que há multidões em que não me encaixo. Ou que não me encaixo em multidões, ponto. Que aquele mar de gente não é a minha praia.
Mas também tomei realmente consciência, talvez pela primeira vez na vida, de que há toda uma faixa etária em que já não me integro. Que veio depois de mim e que tem já uns quantos elementos que me são estranhos, que acho deslocados quando olho para o meu próprio passado.
Isso não é estar velho. É talvez perceber que já não sou o último modelo. Que há uma geração depois de mim, mais fresca, com certeza, com mais fome de tudo. Mas uma geração que não tem ainda o que já tenho. Não tem 30 anos de experiências com que contrastar o que lhe aparece no caminho, não sabe algumas coisas que se calhar já aprendi. E que essa geração, que neste momento se perde numa busca delirante pela sua identidade, há de encontrá-la um dia, ainda que provavelmente de forma diferente do que encontrei (encontro?) a minha.
Há tempo e espaço para todos nós neste mundo; felizmente sei que tenho os meus. E pesando tudo, até gosto bastante deles…
…mas se alguma vez estiver a falar com alguém e começar uma frase por “No meu tempo…” têm toda a liberdade para me dar um tiro de misericórdia.
Acho que afinal ainda vai haver mais um post em relação ao Festival. Por isso não percam, pode ser que esse é que seja giro. Nunca se sabe.
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