sexta-feira, março 31, 2006

terça-feira, março 28, 2006

100 Tempos

Houveram fases em que tinha todo o tempo do mundo. Em que passava horas perdidas a jogar no computador por que não tinha nada para fazer.

Como diz a amiga Celine, “those days are gone”.

Entre reservar um bocadinho para a família, amigos que não se dão com outros amigos, e que por isso têm de ser “marcados” para horas diferentes, outras pessoas a que quero dar atenção exclusiva, trabalho até à hora que for (e por vezes até aos fins de semana), horas para ir ao ginásio, tempo para sair, para dançar e deixar-me ir, e claro, tempo para namorar, sobram só algumas nesgas para me sentar sem fazer nada. E cada vez menos.

Às vezes parece que ultimamente tenho de organizar uma agenda só para gerir todos os meus tempos. Não costumava ser assim. E se é bom ter muitas coisas com que me ocupar, começa a faltar-me o tempo para recuperar o fôlego. Mas fazer o quê, se sou eu próprio que sinto falta de estar com as pessoas? Se tenho prazer nisso?

Claro que o tempo para escrever também não é muito. Já se passaram várias coisas sobre as quais gostaria de ter escrito aqui, mas estou ocupado a vivê-las… o que no fim de contas é o melhor, não é?

Haja tempo…

terça-feira, março 21, 2006

Árvore

Hoje é Dia Mundial da Árvore. Hoje também é Dia Mundial da Poesia. Não tenho pretensões a ser poeta mas apeteceu-me brincar um bocadinho. Aqui vai... o meu poema-árvore.



Era uma árvore.
Só uma árvore. | Só uma árvore.
Na sua sombra | Na sua sombra
Nunca descansou um pobre | Nunca descansou um herói
Nem suspiraram aversos | Nem recitaram versos
Pedintes dessa selva. | Ninfas da floresta.
Só uma árvore | Só uma árvore
Sem consciência que a gerasse | Sem mão alva que a plantasse
Mais um acaso da Natureza | Como tributo à Natureza
Sem carinho que a afagasse | Ou carinho que a regasse
Quando era uma incerteza | Quando era uma incerteza
Que vingasse. | Que vingasse.
Quase nem uma | Apenas uma
No meio de tantas árvores | No meio de muitas árvores
Mais alto | Mais altas
Mais magras, sem beleza | Mais esguias, com beleza
Sujeita ao tempo, | Sujeita a ventos,
Ao passar de tempo incessante | E ao passar de tempo constante
E à indiferença | E à indiferença
De qualquer transeunte | De qualquer caminhante
Que passasse. | Que a olhasse.

Mas todos os dias
Ela agradecia ao sol
por aquecê-la,
agradecia à chuva
que a alimentava,
agradecia aos pássaros
pela vida que geravam
nos seus ramos.

E era feliz.
Pois mesmo uma árvore
Pode ser feliz
Por ser só uma árvore
Apenas uma árvore
Se for verdadeira.

quinta-feira, março 16, 2006

O cubículo do Bob

Se estão fartos do vosso local de trabalho, bisbilhotem o do Bob.

Vá lá, aproveitem que ele não está! :)

segunda-feira, março 13, 2006

O Segredo da Coisa

Há pouco tempo, com alguns dias de intervalo, fiz duas visitas a salas de cinema. Uma para ver “O Segredo de Brokeback Mountain”. Outra, o português “Coisa Ruim”.

“Brokeback” é um filme gay para heteros, na minha opinião. Não me consegui identificar com o filme, o que é estranho, considerando que geralmente tudo o que tenha esta temática costuma ter um efeito amplificado na minha pessoa.
É um bom filme. Um pouco arrastado na segunda parte, mas perfeitamente tolerável. Ennis, interpretado por Heath Ledger, é um homem hermeticamente fechado, sendo a sua descoberta de um amor por outro homem ao mesmo tempo a única brecha na carapaça que o impede de se relacionar com o mundo exterior e aquilo de que tem mais medo. Twist (Jake Gillenhall) é alguém que gostaria de passar a vida ao lado de Ennis, e vê recusado o seu anseio, pelas restrições da sociedade, pelo mundo, mas principalmente pelo próprio Ennis.
Há uma relação de 20 anos entre os dois. Feita de escapadelas, de momentos roubados. Uma relação que começa e acaba em Brokeback Mountain, e supostamente tão intensa que os faz voltar vezes sem conta para o seu refúgio. Então, porque é que saí da sala de cinema com a sensação que o sofrimento de Alma era tão mais importante para o realizador do que o de Ennis ou Jack?

Por sua vez, “Coisa Ruim” aventura-se onde muito poucos foram antes de si. É um filme de terror em português. E um esforço válido, embora mediano.
Ao contrário de “Brokeback”, arrasta-se mais no princípio, dando ao espectador apenas amostras muito pálidas de que algo não está bem. O meio é preenchido por explicações das várias superstições existentes no meio rural onde a acção se insere. Cai-se num ritmo muito narrativo, tendo a progressão da história um lugar secundário.
O desconforto inerente a um filme de terror só se instala mais para o final, e se mesmo aqui não consegue agarrar totalmente, principalmente porque a ameaça nunca se revela muito directa, pelo menos incomoda e deixa o espectador intranquilo e a perguntar-se o que se vai passar a seguir, o que é o que um filme de suspense/horror deve fazer.
O casal principal da história não aquece nem arrefece. Acho que os verdadeiros protagonistas acabam por ser os filhos, com boas actuações dos respectivos actores.

Ambos os filmes me surpreenderam um pouco. O primeiro, por não me emocionar tanto quanto esperava. O segundo, por me inquietar um pouco mais do que supunha. Ambos tinham espaço para mais. Algo que os fizesse resultar em pleno para mim. O quê, concretamente, talvez nem saiba precisar. É daqueles mistérios que só os que sabem verdadeiramente fazer cinema conhecem. É o tal segredo da coisa...

quarta-feira, março 08, 2006

Dia da Mulher



Não, não é nenhum daqueles dias do mês em que supostamente elas estão viradas do avesso... É mesmo um dia dedicado à outra metade do género humano.

Para aqueles que não sabem muito bem do que estou a falar, cliquem aqui.

Sem Máscaras



Pensei um bocado antes de escrever esta segunda parte. A porção emocional desta semana envolve directamente duas pessoas de que gosto. Bastante. Diz respeito a sentimentos e situações pessoais de cada um.
Há confidências que não verão estas linhas. Não por não terem importância para mim, pelo contrário, mas exactamente por serem isso mesmo, confidências.
De qualquer modo, sinto-me compelido a falar, porque desde que comecei a escrever este blog ele tem-se tornado um escape onde exorcizo algumas situações, onde as ponho em perspectiva. Por isso, talvez parte do que vem a seguir pareça desconexo, mas é o preço a pagar por se expor o que não será, de forma alguma, para expor.

Há pouco mais de uma semana, comecei de novo a interessar-me pela descoberta de alguém. Uma nova pessoa entrou na minha vida, sem pedir grande licença, sem grandes alardes. Ligámo-nos.

Hoje, a presença dele coloca-me num dilema.

É possível querer sem se saber se se quer? É concebível estar com alguém e adorar cada minuto e mesmo assim não perceber se me devo deixar envolver por ele?
Aparentemente sim. O problema não é ele. Pelo que já pude perceber neste pouco tempo, é a todos os níveis adorável, e uma pessoa a sério. Vejo claramente que estou no limiar… mais um passo e caio de cabeça.
O problema sou eu, e na minha disponibilidade para dar esse passo.
Conheço-o um pouco mais a cada dia. Tenho passado bastante tempo com ele, e quase tudo me diz que poderíamos ser felizes juntos. E ainda assim, hesito. Será que estou a ser estúpido? Que estou a adiar ou quem sabe até a desperdiçar uma coisa que poderia ser tão boa? Ou será que esta necessidade que talvez tenha ainda de espaço deve ser alimentada como algo de essencial?
Não sei. Tenho de continuar a explorar-nos. E é o que vou fazer. Desde que ele o permita, claro.

Outro dos dados adquiridos em que o meu dia a dia se baseou nos últimos meses desapareceu também sem aviso. A pessoa de quem me separei entrou de seguida numa relação. Estava com outro. E digo estava, porque esta semana essa relação terminou de repente.
Em mim, o primeiro impacto foi grande. Não por pensar que ali estava a minha oportunidade de voltar a ter algo. Aliás isso, o constatar de não querer voltar para ele se por um acaso me fosse dada a oportunidade, foi uma das coisas que me surpreendeu um pouco, apesar de tudo, e me fez perceber que já ultrapassei essa fase. O que me abalou foi ver alguém por quem tenho um carinho enorme praticamente no mesmo estado em que fiquei dois meses atrás. Olhar para ele foi quase como ver-me ao espelho.
Sei como nos sentimos na situação em que ele se encontra. As nódoas negras, embora esbatidas, ainda são visíveis na minha pele. E não queria que ele estivesse a passar pelo mesmo.

Tento dividir-me para dar atenção a ambos. Tanto um como outro, a meu ver, teriam direito à minha presença completa, coisa que não posso dar neste momento. Espero estar a conseguir dar a um o apoio de que precisa e ao outro a atenção que merece.

Há poucos dias, estava a recuperar de uma relação que terminou. Neste momento, tento ajudar um Amigo a passar por um período difícil, enquanto catalogo cá dentro os sentimentos por uma nova pessoa. Será que o fim com o primeiro não me deixa avançar de cabeça para o outro? Ou ainda é simplesmente muito cedo para dar esse passo? Queria ter certezas. Não quero uma relação com pés de barro. Não quero dar-me completamente mais uma vez para ter daqui a umas semanas de reajustar novamente a minha vida a estar sozinho.

E no meio de tudo, tenho tentado ser o mais transparente possível com os envolvidos. Sem usar máscaras. Ser apenas eu.

Pouco tempo atrás, em conversa com alguém surgiu o pensamento. Quando era pequeno, pensava que a parte mais difícil quando fosse crescido seria pagar as minha contas e ser independente. É complicado, sem dúvida. Mas a parte realmente difícil é navegar entre sentimentos, meus e dos que me rodeiam. Fazer deles algo que valha a pena ser vivido, e respeitar os outros no processo.

O homem em mim procura respostas.

terça-feira, março 07, 2006

Com Máscaras



Há cerca de 25 anos atrás, estava-se numa altura de bombas de mau cheiro e insectos de plástico. De bisnagas, bombinhas e estalinhos. Numa época em que ainda não era proibido comprar artefactos pirotécnicos em qualquer papelaria, uma fiada de bombinhas chinesas era o deleite de qualquer miúdo.

Como para todas as crianças, a ideia de andar vestido com uma roupa de fantasia, ainda mais fornecida por um crescido, era para lá de excitante. Era juntar ao mundo de sonho o seu reflexo no mundo real. Era poder ser um palhaço, um índio ou um mágico. Era mesmo por vezes usar apenas uma caraça e fingir que estava mascarado da cabeça aos pés.

Nunca usei fantasias muito elaboradas. Os tempos não estavam para isso e não haviam em hipermercados fantasias prontas a vestir para as massas. Até não era assim tão comum mascarar-me a rigor. Mas o Carnaval estava lá, nas serpentinas e papelinhos, nas máscaras de plástico e nos dentes de vampiro. E eu, a mana e os primos divertiamo-nos à grande.

É claro que a perspectiva de sair à rua e levar com um balão de água ou com um ovo (mesmo sem ser podre) no topo da cabeça me assustava. Pelo confronto, tanto como pelo ridículo. Não era capaz de o fazer aos outros, a não ser de longe. Largar balões tipo bomba de um terceiro andar com o meu primo, fazendo pontaria aos transeuntes que passavam lá em baixo, era uma aventura que resultava em pessoas indignadamente molhadas e risos abafados (mas a bandeiras despregadas) de putos agachados no fundo da varanda.

O miúdo ficou para trás com o passar dos anos, no exterior, pelo menos. Se há uma coisa que sei sobre mim, para o bem e para o mal, é que muito desse puto ainda está cá dentro. Mas em relação ao Carnaval, com grande pena minha, fui perdendo a vontade das brincadeiras da época e, pior, de me mascarar. Talvez porque em alguns sentidos comecei a ter de usar máscaras a tempo inteiro. E assim deixei de pôr a realidade à prova por algumas horas e tomar o lugar de outro que não eu.

Até este ano. Decidi que ia fazer qualquer coisa. Desse lá por onde desse, não ia deixar passar mais um Carnaval em branco. Mas fazer o quê? Um disfarce a sério é um investimento de tempo e dinheiro bastante pesado. Ir com uma coisa a meio gás não tinha piada nenhuma; não há nada mais deprimente do que uma mascareta feita em casa às três pancadas.

E então lembrei-me de uma máscara interessante: porque não vestir a pele de uma daquelas pessoa que dão ideias? Inventei uma máscara fantástica (sendo que aqui o termo fantástica está a ser usado de forma extremamente liberal) e passei a ideia aos meus amigos. E surpreendentemente, eles alinharam. É o desespero, meus senhores.

O dia de Carnaval transformou-se para este ano no dia da Risca Vermelha. Alguns dos meus amigos assumiram o papel de outras riscas coloridas. Juntos, formaríamos um arco-íris. O conceito de bandeira acabou por não resultar por aí além. Mas o importante é que fizemos alguma coisa. Que mesmo só de t-shirts coloridas e cabelo a condizer, nos divertimos bastante e entrámos no espírito do dia. E que ao som do samba nos misturámos com negros de gosto por roupa duvidoso, divas fabulosas, piratas, gatos e cowboys, para criar uma noite que não vou esquecer tão cedo.

O puto em mim ficou satisfeito.

segunda-feira, março 06, 2006

Masks ON | Masks OFF

Supostamente, o Carnaval é uma época em que as pessoas se escondem atrás de máscaras diversas, ou se libertam atrás de máscaras diversas. É a época de ser o que não se é. Altura de mudar por fora, e até por vezes por dentro. Mas será que era preciso chegar ao extremo de numa semana tudo se alterar de maneira drástica?

É surpreendente perceber que a mudança dos disfarces foi superada pelas mudanças de status quo que se operaram à minha volta e cá dentro. A realidade tomou o Carnaval de assalto e usou-o para mascarar o que se passou. O problema agora é decidir se tudo é real.

Vou tentar separar em dois capítulos o âmago da semana passada. O primeiro, “Com Máscaras”, é a experiência de Carnaval em si. O segundo, “Sem Máscaras”, é a essência do que se passou por detrás delas.