domingo, junho 25, 2006

Pride

Hoje foi a Marcha do Orgulho Gay, em Lisboa.

Acho bem. Assim os homossexuais portugueses podem aparecer perante a sociedade em geral, defendendo a obtenção de direitos que não possuem só por não pertencer à chamada normalidade.

Acho mal. Porque uma pessoa não se deveria orgulhar de ser homossexual, como de se orgulhar de ser branca, escrever com a mão direita ou gostar de esparguete. Quando isso passa para os outros de forma prepotente, está-se a estigmatizar mais os homossexuais e a separá-los dos que não o são.

Apesar das minhas opiniões contrárias (e portanto não apoiar nem deixar de apoiar o Pride), e porque ser homossexual faz parte daquilo que sou, deixo aqui algo que escrevi há alguns anos e que muitos de vocês já viram anteriormente. Mas apeteceu-me, por isso façam-me a vontade.



Há muito tempo atrás, após a criação do mundo, anjos deambulavam pela terra, ajudando os mortais com as suas vidas, sem que estes se apercebessem. Deus havia criado o Homem e a Mulher, e tudo era com havia sido destinado, e eles complementavam-se um ao outro. Mas um dia, um anjo percebeu que não era igual aos outros anjos. Haviam anjos femininos e anjos masculinos, e ao contrário da noção que hoje temos deles, conheciam o amor, um amor puro e espiritual, uns pelos outros. O anjo apercebeu-se de que não desejava os anjos femininos, mas que a sua alma procurava outros como ele. E isso atormentava-o, porque não era assim que deveria ser. Quando os outros anjos se aperceberam, ficaram chocados e furiosos. Deus não os fizera assim; não era natural e não o tolerariam. Ele foi condenado a deixar o seu estado imortal, banido para o mundo abaixo, para terminar os seus dias como um homem comum, esquecido para sempre. Tiraram-lhe as asas, deixando só as cicatrizes nas suas costas, e deixaram-no só, solitário numa terra onde não havia ninguém como ele...
Mas Deus contemplou o seu anjo, e teve pena dele, pois era puro e bom, e não era culpado por ser diferente dos outros anjos. Tomou as asas que outrora haviam estado nas costas do anjo e insuflou-lhes vida. Com um tremor, as asas dividiram-se em milhares de delicadas penas brancas, que foram carregadas pelas brisas suaves ao redor do mundo. Quando uma pena encontrava um homem sensível o suficiente para a tentar alcançar, transformava-o, tornando-o uno com o anjo, tornando-o como ele, e então ele já não estava só...
As penas estão soltas pelo mundo desde então, vagueando, pairando... Esta é a razão porque, até ao dia de hoje, ninguém sabe porque um homem é gay; acontece tudo com o sussurro de uma pena... Mas as cicatrizes nas costas do anjo estão lá também, nas costas de cada um. Elas representam a queda de graça, e é por isso que as outras pessoas os excluem, repudiando-os, sem se aperceber de que até Deus nos deu a sua benção... àqueles gentis o suficiente para alcançar a pena...

1 comentário:

rmixme disse...

No que diz respeito à Pride tenho a mesma opinião que tu. Tal como te disse, ainda assim fiquei agradavelmente surpreendido por não haver exibicionismo. Talvez mesmo só no desfile.

Em relação ao texto...Já sabes o que penso dele. Foi escrito mesmo por um anjo puro. Só assim é possível escreveres um texto tão lindo.
Parabéns!