
Uma paleta de cores hipnotizante, espalhada na tela como se de um quadro se tratasse, pinta delicadamente o retrato de um espaço e tempo remotos pela sua distância cultural, com regras e costumes tão diversos dos nossos que é difícil colocarmo-nos na pele das personagens. E no entanto, por baixo dessas diferenças existem os mesmos sentimentos, as mesmas aspirações com que vivemos dia a dia.
Esta é a história de uma mulher, construída em torno de um sentimento. De um propósito.
Chiyo é vendida em criança pelo seu pai, juntamente com a sua irmã, a uma casa de geishas. A irmã não é aceite, sendo vendida a uma casa de prostituição, e Chiyo encontra-se sozinha no mundo. Mas cairá ainda mais baixo. Os esquemas de Hatsumomo, a mais célebre geisha da cidade, que a vê como uma ameaça potencial, têm os seus frutos: nunca será uma geisha, nunca passará de uma escrava.
A menina perde toda a esperança. Para ela, a vida acabou. Até que um dia, um homem que não conhece lhe fala com bondade e lhe oferece um gelado. Fascinada por ele, Chiyo decide que um dia será ela a estar no lugar das mulheres que o acompanham. Um dia, será uma geisha, custe o que custar.
Chiyo é a água espelhada nos seus olhos azuis. Adapta-se, procura um caminho por entre as rochas que formam o seu horizonte. A sua oportunidade surge anos depois, quando Mameha, a rival de Hatsumomo, a procura com o intuito de a tornar sua aprendiz. Em pouco tempo, ensina-lhe toda a arte de ser uma geisha. Culta, educada, bela, sensual, uma geisha é uma obra de arte viva, para ser desejada, apreciada pelos homens. Logo, e apesar da inveja de Hatsumomo, que continua a querer arruiná-la aos olhos de todos, Chiyo renasce como Sayuri, tornando-se tão famosa e cobiçada que a sua virgindade acaba por ser vendida pelo valor mais alto de sempre.
Mesmo assim, Sayuri vai descobrir que o destino continua a levá-la para longe da única coisa que deseja: o amor do homem que um dia levou a esperança de volta à sua vida.
Para alguns, o amor é a queda. Para Hatsumomo, amar estava-lhe vedado pela existência que a escolhera. No final, o sentimento destrói-a. Por dentro, assim como por fora. Mameha vive a sua vida sem ceder ao amor secreto que tem pelo seu patrono, e que não podea demonstrar, até que este se suicida depois da queda do Japão na II Guerra Mundial. No final, apenas lhe resta a vida vazia de geisha.
Para outros, o amor é a redenção final. “Todos os passos que dei foram em direcção a este momento”, diz Sayuri ao Administrador. A água encontra por fim o seu curso.
Um filme belo como poucos.
2 comentários:
Quando li As Memórias de Uma Gueixa, já há uns anitos achei o livro fascinante tendo-o nomeado como um dos meus preferidos de sempre. A escrita de Arthur Golden é simplesmente genial! A maneira, por exemplo, como ele descreve todo o processo de transformação de Chiyo numa gueixa leva-nos a conceptualizar na mente um cenário praticamente real.
Estava por isso, um pouco hesitante em ir ver este filme porque uma vez idealizadas e imaginadas as coisas de uma forma, o realizador pode ter uma perspectiva diferente da nossa. o que nos faz sair da sala de cinema desiludidos.
Não foi, porém, pela primeira vez, o caso! Assim como o livro, o filme está genial. Parecia que estava a ver numa tela a minha própria imaginação. A minha irmã disse que era porque o realizador tinha a mesma estrutura que eu... Pormenores técnicos, enfim! lol
De todo o modo, recomenda-se! E muito ;)
Tal como eu tambem já tinha dito é de facto um dos filmes do ano. Não existem palavras para descrever a história, a beleza das imagens e das personagens, não descurando a banda sonora. É de facto um grande filme.
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