sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Memórias de uma Geisha

"Estas não são as memórias de uma rainha. Estas são memórias de um tipo diferente..."


Uma paleta de cores hipnotizante, espalhada na tela como se de um quadro se tratasse, pinta delicadamente o retrato de um espaço e tempo remotos pela sua distância cultural, com regras e costumes tão diversos dos nossos que é difícil colocarmo-nos na pele das personagens. E no entanto, por baixo dessas diferenças existem os mesmos sentimentos, as mesmas aspirações com que vivemos dia a dia.
Esta é a história de uma mulher, construída em torno de um sentimento. De um propósito.

Chiyo é vendida em criança pelo seu pai, juntamente com a sua irmã, a uma casa de geishas. A irmã não é aceite, sendo vendida a uma casa de prostituição, e Chiyo encontra-se sozinha no mundo. Mas cairá ainda mais baixo. Os esquemas de Hatsumomo, a mais célebre geisha da cidade, que a vê como uma ameaça potencial, têm os seus frutos: nunca será uma geisha, nunca passará de uma escrava.

A menina perde toda a esperança. Para ela, a vida acabou. Até que um dia, um homem que não conhece lhe fala com bondade e lhe oferece um gelado. Fascinada por ele, Chiyo decide que um dia será ela a estar no lugar das mulheres que o acompanham. Um dia, será uma geisha, custe o que custar.

Chiyo é a água espelhada nos seus olhos azuis. Adapta-se, procura um caminho por entre as rochas que formam o seu horizonte. A sua oportunidade surge anos depois, quando Mameha, a rival de Hatsumomo, a procura com o intuito de a tornar sua aprendiz. Em pouco tempo, ensina-lhe toda a arte de ser uma geisha. Culta, educada, bela, sensual, uma geisha é uma obra de arte viva, para ser desejada, apreciada pelos homens. Logo, e apesar da inveja de Hatsumomo, que continua a querer arruiná-la aos olhos de todos, Chiyo renasce como Sayuri, tornando-se tão famosa e cobiçada que a sua virgindade acaba por ser vendida pelo valor mais alto de sempre.

Mesmo assim, Sayuri vai descobrir que o destino continua a levá-la para longe da única coisa que deseja: o amor do homem que um dia levou a esperança de volta à sua vida.

Para alguns, o amor é a queda. Para Hatsumomo, amar estava-lhe vedado pela existência que a escolhera. No final, o sentimento destrói-a. Por dentro, assim como por fora. Mameha vive a sua vida sem ceder ao amor secreto que tem pelo seu patrono, e que não podea demonstrar, até que este se suicida depois da queda do Japão na II Guerra Mundial. No final, apenas lhe resta a vida vazia de geisha.

Para outros, o amor é a redenção final. “Todos os passos que dei foram em direcção a este momento”, diz Sayuri ao Administrador. A água encontra por fim o seu curso.

Um filme belo como poucos.

2 comentários:

G. disse...

Quando li As Memórias de Uma Gueixa, já há uns anitos achei o livro fascinante tendo-o nomeado como um dos meus preferidos de sempre. A escrita de Arthur Golden é simplesmente genial! A maneira, por exemplo, como ele descreve todo o processo de transformação de Chiyo numa gueixa leva-nos a conceptualizar na mente um cenário praticamente real.
Estava por isso, um pouco hesitante em ir ver este filme porque uma vez idealizadas e imaginadas as coisas de uma forma, o realizador pode ter uma perspectiva diferente da nossa. o que nos faz sair da sala de cinema desiludidos.
Não foi, porém, pela primeira vez, o caso! Assim como o livro, o filme está genial. Parecia que estava a ver numa tela a minha própria imaginação. A minha irmã disse que era porque o realizador tinha a mesma estrutura que eu... Pormenores técnicos, enfim! lol
De todo o modo, recomenda-se! E muito ;)

rmixme disse...

Tal como eu tambem já tinha dito é de facto um dos filmes do ano. Não existem palavras para descrever a história, a beleza das imagens e das personagens, não descurando a banda sonora. É de facto um grande filme.