terça-feira, fevereiro 14, 2006

Estranho


Fico acordado à noite, com um estranho dentro de mim.
Não o conhecia, não me reconheço,
A este estranho, que ficou quando tu foste,
Que conta as horas até te ver de longe
E que olhando para ti vê outro estranho
Com olhos que já não são meus.

Não durmo; mas também não estou desperto.
O outro que deixaste comigo
Chama por ti,
Chama pela forma que deixaste impressa na minha cama.

Levanto-me, mas não consigo erguer-me.
Talvez devesse apresentar-me, a este estranho,
E trapacear atalhos para fora de ti.
Tento fazer um mapa da face
Que me fita agora no espelho e não me fixa;
Experimento tocar-lhe, mas é água, é fumo, é mentira.

Abomino-o.
Queria querer bani-lo
Ao fantasma que ocupa o meu lugar
Preso a um lugar onde só tu pertencias
Mas não posso.
Afinal, não há nada para além dele.

Nele só há uma constante que percebo
Não é dor
É só o vazio
A que este estranho chama vida.



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