Há pouco tempo, com alguns dias de intervalo, fiz duas visitas a salas de cinema. Uma para ver “O Segredo de Brokeback Mountain”. Outra, o português “Coisa Ruim”.
“Brokeback” é um filme gay para heteros, na minha opinião. Não me consegui identificar com o filme, o que é estranho, considerando que geralmente tudo o que tenha esta temática costuma ter um efeito amplificado na minha pessoa.
É um bom filme. Um pouco arrastado na segunda parte, mas perfeitamente tolerável. Ennis, interpretado por Heath Ledger, é um homem hermeticamente fechado, sendo a sua descoberta de um amor por outro homem ao mesmo tempo a única brecha na carapaça que o impede de se relacionar com o mundo exterior e aquilo de que tem mais medo. Twist (Jake Gillenhall) é alguém que gostaria de passar a vida ao lado de Ennis, e vê recusado o seu anseio, pelas restrições da sociedade, pelo mundo, mas principalmente pelo próprio Ennis.
Há uma relação de 20 anos entre os dois. Feita de escapadelas, de momentos roubados. Uma relação que começa e acaba em Brokeback Mountain, e supostamente tão intensa que os faz voltar vezes sem conta para o seu refúgio. Então, porque é que saí da sala de cinema com a sensação que o sofrimento de Alma era tão mais importante para o realizador do que o de Ennis ou Jack?
Por sua vez, “Coisa Ruim” aventura-se onde muito poucos foram antes de si. É um filme de terror em português. E um esforço válido, embora mediano.
Ao contrário de “Brokeback”, arrasta-se mais no princípio, dando ao espectador apenas amostras muito pálidas de que algo não está bem. O meio é preenchido por explicações das várias superstições existentes no meio rural onde a acção se insere. Cai-se num ritmo muito narrativo, tendo a progressão da história um lugar secundário.
O desconforto inerente a um filme de terror só se instala mais para o final, e se mesmo aqui não consegue agarrar totalmente, principalmente porque a ameaça nunca se revela muito directa, pelo menos incomoda e deixa o espectador intranquilo e a perguntar-se o que se vai passar a seguir, o que é o que um filme de suspense/horror deve fazer.
O casal principal da história não aquece nem arrefece. Acho que os verdadeiros protagonistas acabam por ser os filhos, com boas actuações dos respectivos actores.
Ambos os filmes me surpreenderam um pouco. O primeiro, por não me emocionar tanto quanto esperava. O segundo, por me inquietar um pouco mais do que supunha. Ambos tinham espaço para mais. Algo que os fizesse resultar em pleno para mim. O quê, concretamente, talvez nem saiba precisar. É daqueles mistérios que só os que sabem verdadeiramente fazer cinema conhecem. É o tal segredo da coisa...
segunda-feira, março 13, 2006
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1 comentário:
De facto, o Brokeback deixou muito a desejar, a meu ver. Não tinha pensado nisso mas acho que tens toda a razão quando dizes que é um filme gay para heteros. O realizador talvez quisesse agradar aos dois públicos e acabou por não ser marcante para nenhum. É o que dá querer agradar a gregos e troianos.
Já o Coisa Ruim agradou-me especialmente pelas interpretações homogeneas e boas, no geral. Algo raro num filme português.
O facto do filme não ter muito terror é algo que já estou habituado. Afinal, são tantos os filmes estrangeiros que vemos no grande ecrã que se intitulam de terror e nada têm do género. Apenas uns sustos e sons sonoros a condizer.
Contudo, apesar dos filmes serem bastante diferentes acabei por gostar mais do português.
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