terça-feira, março 07, 2006
Com Máscaras
Há cerca de 25 anos atrás, estava-se numa altura de bombas de mau cheiro e insectos de plástico. De bisnagas, bombinhas e estalinhos. Numa época em que ainda não era proibido comprar artefactos pirotécnicos em qualquer papelaria, uma fiada de bombinhas chinesas era o deleite de qualquer miúdo.
Como para todas as crianças, a ideia de andar vestido com uma roupa de fantasia, ainda mais fornecida por um crescido, era para lá de excitante. Era juntar ao mundo de sonho o seu reflexo no mundo real. Era poder ser um palhaço, um índio ou um mágico. Era mesmo por vezes usar apenas uma caraça e fingir que estava mascarado da cabeça aos pés.
Nunca usei fantasias muito elaboradas. Os tempos não estavam para isso e não haviam em hipermercados fantasias prontas a vestir para as massas. Até não era assim tão comum mascarar-me a rigor. Mas o Carnaval estava lá, nas serpentinas e papelinhos, nas máscaras de plástico e nos dentes de vampiro. E eu, a mana e os primos divertiamo-nos à grande.
É claro que a perspectiva de sair à rua e levar com um balão de água ou com um ovo (mesmo sem ser podre) no topo da cabeça me assustava. Pelo confronto, tanto como pelo ridículo. Não era capaz de o fazer aos outros, a não ser de longe. Largar balões tipo bomba de um terceiro andar com o meu primo, fazendo pontaria aos transeuntes que passavam lá em baixo, era uma aventura que resultava em pessoas indignadamente molhadas e risos abafados (mas a bandeiras despregadas) de putos agachados no fundo da varanda.
O miúdo ficou para trás com o passar dos anos, no exterior, pelo menos. Se há uma coisa que sei sobre mim, para o bem e para o mal, é que muito desse puto ainda está cá dentro. Mas em relação ao Carnaval, com grande pena minha, fui perdendo a vontade das brincadeiras da época e, pior, de me mascarar. Talvez porque em alguns sentidos comecei a ter de usar máscaras a tempo inteiro. E assim deixei de pôr a realidade à prova por algumas horas e tomar o lugar de outro que não eu.
Até este ano. Decidi que ia fazer qualquer coisa. Desse lá por onde desse, não ia deixar passar mais um Carnaval em branco. Mas fazer o quê? Um disfarce a sério é um investimento de tempo e dinheiro bastante pesado. Ir com uma coisa a meio gás não tinha piada nenhuma; não há nada mais deprimente do que uma mascareta feita em casa às três pancadas.
E então lembrei-me de uma máscara interessante: porque não vestir a pele de uma daquelas pessoa que dão ideias? Inventei uma máscara fantástica (sendo que aqui o termo fantástica está a ser usado de forma extremamente liberal) e passei a ideia aos meus amigos. E surpreendentemente, eles alinharam. É o desespero, meus senhores.
O dia de Carnaval transformou-se para este ano no dia da Risca Vermelha. Alguns dos meus amigos assumiram o papel de outras riscas coloridas. Juntos, formaríamos um arco-íris. O conceito de bandeira acabou por não resultar por aí além. Mas o importante é que fizemos alguma coisa. Que mesmo só de t-shirts coloridas e cabelo a condizer, nos divertimos bastante e entrámos no espírito do dia. E que ao som do samba nos misturámos com negros de gosto por roupa duvidoso, divas fabulosas, piratas, gatos e cowboys, para criar uma noite que não vou esquecer tão cedo.
O puto em mim ficou satisfeito.
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1 comentário:
Sem dúvida que também não esquecerei essa noite. Foi uma noite de emoções, muita alegria e tristeza com um balanço bastante positivo apesar de tudo.
Para o ano espero estar com todas as mesmas pessoas e mais também serão bem vindas.
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