quarta-feira, agosto 10, 2011

First Flat Tire

Hoje mudei um pneu.
Pela primeira vez.
Sozinho.
O carro depois andou e tudo.
Sem abanar.
Sem perder o pneu sobresselente.
Sem entrar por uma fissura espaço-temporal aberrante porque o continuum se encontrava ameçado por tão estranha ocorrência.

Hoje mudei um pneu, sozinho.
Tou tão crescido...

sexta-feira, maio 20, 2011

Casas - Adeus à Casa da Porteira

A Casa da Porteira foi alugada, e estamos de saída.

Era um fim anunciado. Desde que o A.R. resolveu por razões pessoais voltar para o Oeste, há uns meses largos, eu sabia que este dia ia chegar. Nessa altura tinha decidido que ia aproveitar ao máximo o tempo que restava em Almada, e foi o que fiz. Foi uma decisão consciente, mas agora que esse tempo acabou, tenho de lidar com o corte abrupto. Sinto quase como se estivesse a ser posto fora de casa… E ao mesmo tempo sinto-me estúpido por me apetecer chorar, quando sabia perfeitamente que ia ser assim.

Agora queimam-se os últimos cartuchos; na segunda-feira são as mudanças e está praticamente tudo empacotado e pronto para seguir. Os (muitos) caixotes amontoam-se, as prateleiras e candeeiros estão desmontados, os móveis esperam já vazios o papel de protecção que há de os envolver até chegarem à sua nova morada. O armário da entrada está cheio da minha tralha que foi ficando por lá, e que há-de seguir durante a próxima semana de volta para a Quinta. E o ar começa a saber um pouco a abandono; arrumados que estão os tapetes e cortinas, ouve-se já o eco na maioria das divisões…

Claro que sei que o A.R., apesar do entusiasmo com a nova moradia em (re)construção, também tem pena de sair daqui, depois dos planos e sonhos para esta casa, para a casa que durante um bom tempo foi a Nossa casa… Não se leia aqui nostalgia por uma relação que já terminou. É, antes, melancolia por uma sucessão de momentos bons e menos bons, mas que nos marcaram a ambos e ficarão, acredito, gravados de igual forma nas nossa memórias e nas paredes que os viram acontecer. São momentos dos dois (e muitas vezes se calhar da vizinha do lado, que tinha uma vista privilegiada através do terraço directamente para a sala de estar) que não deixarão de nos pertencer, mas que vão ficar parcialmente presos naquele espaço, entranhados nos mosaicos, encaixados nos espaços agora vazios, impressos nas marcas em negativo das molduras outrora penduradas que irão ser escondidas pela tinta de quem vem a seguir…

É altura de fazer as minhas despedidas. Adeus, Casa da Porteira, que tenhas sorte com os teus novos habitantes. Um abraço de alguém que vai sentir a tua falta.

quarta-feira, maio 18, 2011

Casas - A Casa da Quinta

Depois de um ano e um terço à venda, retirei esta semana do mercado a Casa da Quinta. A culpa, claro, é da conjuntura (que tem as costas largas*), e das senhoras da REMAX que tantos esforços envidaram para que a casa (nunca) se vendesse. Não devia dizer isto, se calhar estou a ser mauzinho… Só porque em quase ano e meio tive o glorioso total de duas visitas à casa, uma delas enganada (“nós tínhamos pedido uma casa de rés de chão…”), e estive todo este tempo sem um contrato de mediação na mão, só para confirmar agora que sim, tinham mesmo perdido a minha papelada, depois de n vezes a dizerem-me que a cópia já tinha seguido pelo correio, e que devia estar mesmo a recebê-la…

Resignado que estou a passar mais uns anos no mesmo sítio, o próximo passo agora é fazer umas obras de modo a torná-la “casa” outra vez. Ganho em qualidade de vida e invisto em pô-la mais bonitinha, para quando as coisas melhorarem ser mais fácil vendê-la. Dava-me jeito mais espaço, mas fazer o quê? Melhor ou pior, se até agora deu assim, vai dar mais uns tempos. Vai ter que dar.


* Na realidade, a conjuntura até teve bastante a ver com a minha decisão de não vender a casa por enquanto. Com a presente situação económica, mesmo que conseguisse fazer a venda (por um preço escandalosamente baixo, claro), ia ser difícil conseguir um empréstimo para a nova, com os bancos a dificultar as coisas como estão. Antes com uma casa velha do que sem casa, né?

sexta-feira, maio 13, 2011

Outra vez Sexta-Feira 13? Julguei que já me tinha visto livre disto...

Depois de um ano sabático (ou seja, um ano em que era perpetuamente Sábado, por isso não postei) acabei por voltar numa sexta-feira… 13…


Azar para quem ainda por aqui passar!...

sexta-feira, maio 14, 2010

Os Ópios do Povo - O Papa

Ainda há gente que vibra com o Papa. Pensei que não, mas há. Basta ver os ajuntamentos que encheram os espaços públicos nos últimos dias em Portugal, só para ver o Papa, para lhe acenar.

A meu ver, só há uma explicação: o Papa, longe dos dias em que representava a instituição Igreja e os valores em que esta assenta, é hoje considerado o socialite supremo, o expoente máximo da figura pública.

Senão, vejamos: como uma estrela de cinema, viaja com a sua própria entourage e guarda-costas. Como um primeiro ministro, discursa para imensas multidões. Como um top model, os maiores criadores competem para que ele desfile com as suas criações. Como um magnata, viaja no seu próprio jacto e tem uma colecção de arte de bradar aos céus. Como Hugh Hefner, tem 80 e tal anos e mesmo assim todas as meninas lhe querem beijar a mão.

E mais: como herói de banda desenhada, o Papa viaja no seu próprio veículo temático. Quem é que pode superar isto? É difícil imaginar um indivíduo com mais star power! Não admira que seja tão apaparicado(!)... Chefe da Igreja Católica? Sim, também é. Mas muito mais do que isso, o artista anteriormente conhecido como Ratzinger é uma forma de escape puro, tal e qual a Lili Caneças. É um distribuidor de camisas tigresse à escala mundial, que faz comentários muitas vezes tão inanes ou estapafúrdios como os da querida Maria Alice. E o povo adora uma boa Lili. Mesmo que seja uma Lili que efectivamente tem posses e que não traz os pastéis de bacalhau na carteira na volta das festas.

Quando crescer, quero ser o Papa. Parece-me um emprego com futuro. Só não me peçam é para rezar missa. O cheiro do incenso faz-me dor de cabeça.

segunda-feira, maio 10, 2010

Os Ópios do Povo - Benfica

O povo precisa de vícios, precisa de ser distraído da sua vidinha.

O povo precisa de buzinar, buzinar, buzinar como se não houvesse amanhã, precisa de se esvair em berros de apoio à Sua Equipa. Tem uma absoluta e completa necessidade de se sentir envolvido, de saber que a Sua Equipa é melhor que todas as outras, é mesmo A Melhor, e que esse povo, por ter escolhido dar o seu apoio Àquela Equipa, À Melhor, é por arrasto também o Melhor, é o Vencedor.

Os outros, os desventurados que não escolheram para Sua Equipa a Vencedora, encolhem-se no seu canto, na sua pequenez... Mas é uma situação temporária, asseguram-se a si próprios. Para o ano, hão de ser eles a fazer a festa, a buzinar, a gritar, a soltar foguetes e a congestionar o Marquês do Pombal. Serão os maiores, serão Os Maiores!

O povo grita e chora de emoção, e a vidinha é posta de lado por mais um dia.

quarta-feira, abril 28, 2010

Update|Upgrade

Os últimos tempos têm sido a um tempo estranhos e normais.

Nas últimas semanas, aconteceu de tudo. Confirmou-se que sim, que vou ser tio(!), e não podia estar mais contente pela mana. A minha busca de uma nova casa estagnou completamente, com a agência maravilha a conseguir um total de 0 (leia-se zero) visitas até agora à minha corrente morada. Ou a minha casa é tão cara e tão má nas fotos que toda a gente recusa vê-la, ou há alguém que não está a fazer o trabalho como devia… Pela segunda vez consecutiva, fiquei em segundo num torneio de Magic; talvez porque me vou tornando um dinossauro por ali e com as escamas metafóricas vem alguma experiência. O trabalho atingiu massa crítica, explodindo em semanas de horários de 12 horas diárias, uma viagem a Madrid ainda mais relâmpago do que a do último ano e complicações que me fizeram puxar os cabelos. E infelizmente, morreu uma pessoa de família, doente havia muito, mas cujo desaparecimento nunca deixa de chocar e entristecer.
E depois houve o fim de semana passado. Tive uma festa na Casa da Porteira, completa com fogo de artifício e tudo, que ajudei a preparar e foi excelente, apesar do aniversariante ter espezinhado(!) as velas que coloquei no bolo. Tive uma visita ao MG, surpreendentemente também excelente. Finalmente deram-me espaço, música boa e um par (hmmmm…) que era uma coisa assim fora de série. E tive uma tarde de relax no calor de uma tarde de pseudo-Verão, que oscilou entre dormitar nas espreguiçadeiras, com cervejinhas geladas, e refeições de tostas com queijos variados a gozar a vista na mesa de vidro do terraço.

Mas o fim de semana trouxe também certos desenvolvimentos, na minha cabeça e fora dela, que podem constituir um novo ponto de viragem. Ou não. Sei lá!... Depois de um mini-tornado auto-infligido, tomei a decisão de continuar a aproveitar aquilo que me é dado a aproveitar, e não stressar com alterações que podem vir daqui a umas horas ou daqui a alguns anos, e que afinal até poderão (é o mais provável) ser pelo melhor. Sim, está-me no sangue resistir o mais possível à mudança, qualquer mudança. Mas felizmente, há sempre tempo para evoluir, se me decidir a isso. Há sempre tempo para ser mais feliz...

Quem ler pode pensar que me estou a queixar, que talvez eu esteja infeliz. Não é o caso. O que acontece é que estou a dizer a mim mesmo que a possibilidade antecipada de vir a ficar momentaneamente menos alegre não compensa a hipoteca do meu bem estar presente. Se conseguir viver assim, sem me derrotar antes mesmo de começar por causa de factores para além do meu controle, e deixar o pessimismo de lado, de certeza que a minha vida vai agradecer.