A Casa da Porteira foi alugada, e estamos de saída.
Era um fim anunciado. Desde que o A.R. resolveu por razões pessoais voltar para o Oeste, há uns meses largos, eu sabia que este dia ia chegar. Nessa altura tinha decidido que ia aproveitar ao máximo o tempo que restava em Almada, e foi o que fiz. Foi uma decisão consciente, mas agora que esse tempo acabou, tenho de lidar com o corte abrupto. Sinto quase como se estivesse a ser posto fora de casa… E ao mesmo tempo sinto-me estúpido por me apetecer chorar, quando sabia perfeitamente que ia ser assim.
Agora queimam-se os últimos cartuchos; na segunda-feira são as mudanças e está praticamente tudo empacotado e pronto para seguir. Os (muitos) caixotes amontoam-se, as prateleiras e candeeiros estão desmontados, os móveis esperam já vazios o papel de protecção que há de os envolver até chegarem à sua nova morada. O armário da entrada está cheio da minha tralha que foi ficando por lá, e que há-de seguir durante a próxima semana de volta para a Quinta. E o ar começa a saber um pouco a abandono; arrumados que estão os tapetes e cortinas, ouve-se já o eco na maioria das divisões…
Claro que sei que o A.R., apesar do entusiasmo com a nova moradia em (re)construção, também tem pena de sair daqui, depois dos planos e sonhos para esta casa, para a casa que durante um bom tempo foi a Nossa casa… Não se leia aqui nostalgia por uma relação que já terminou. É, antes, melancolia por uma sucessão de momentos bons e menos bons, mas que nos marcaram a ambos e ficarão, acredito, gravados de igual forma nas nossa memórias e nas paredes que os viram acontecer. São momentos dos dois (e muitas vezes se calhar da vizinha do lado, que tinha uma vista privilegiada através do terraço directamente para a sala de estar) que não deixarão de nos pertencer, mas que vão ficar parcialmente presos naquele espaço, entranhados nos mosaicos, encaixados nos espaços agora vazios, impressos nas marcas em negativo das molduras outrora penduradas que irão ser escondidas pela tinta de quem vem a seguir…
É altura de fazer as minhas despedidas. Adeus, Casa da Porteira, que tenhas sorte com os teus novos habitantes. Um abraço de alguém que vai sentir a tua falta.