sexta-feira, outubro 12, 2007

Crosswinds

A mexer em ficheiros antigos, descobri um que me despertou a atenção. O título é "Crosswinds", e já tem uns aninhos. É um documento do Word com duzentas e tal páginas, parcialmente escrito por mim, e foi um belo investimento de tempo na altura em que foi feito.

Quando comecei a usar a internet regularmente, uma das minhas consultas habituais passou a ser um message board do site oficial de Magic: The Gathering (não ainda na sua versão actual). Dos inúmeros threads que o compunham alguns dedicavam-se a inventar ficção passada naquele universo. Uns eram pessoais: uma pessoa escrevia uma estória pouco a pouco e as outras apenas comentavam. Outros eram partilhados, onde quem quisesse podia dar início a uma narrativa, passando depois a continuação da mesma pela participação de outros. Foi num destes últimos que resolvi experimentar a escrita compartilhada, e cujo resultado viria a ser Crosswinds.

Crosswinds relata as aventuras de um grupo de aventureiros que luta para derrotar um ameaçador poder negro, premissa altamente imaginativa e nunca vista. Bem, era um message board, o que é que se esperava? Ao todo, acho que houveram uns seis escritores, alguns mais assíduos que outros. A coisa funcionava por turnos: cada um pegava na estória até ao momento e avançava-a mais um capítulo (sendo que a definição de capítulo variava de apenas algumas linhas até algumas páginas). No princípio, propuseram-se personagens, heróis e vilões, que foram sujeitas a votação até se chegar ao grupo inicial. Depois, um de nós começou, e Crosswinds desenrolou-se.

O resultado final, se é que se pode chamar isso, foi um tanto desconexo. Com tanta gente envolvida, era de esperar. Era difícil manter a coerência, tanto da trama como mesmo ao nível estilístico. Até porque vários de nós não tinham o inglês como língua materna. Mas então, se a história resultou num amontoado de situações e a escrita em si não era nada por aí além, porque é que isto me traz boas recordações? Porque me diverti cumó caraças a escrevê-la.

Teve momentos memoráveis. Fiz a introdução de vários personagens, que são afinal as cenas iniciais que definem o que esperar de cada uma. Gostei especialmente do Mahamoti Master, um feiticeiro inicialmente especializado em ilusões mas que acabou por ser pau para toda a obra, de Navros Voy, o Mago Negro, um dos vilões principais, e de Xeitra, uma mulher segura de si que fazia a vida assassinando pessoas. Acho que os apanhei. Foi gratificante quando os criadores desses personagens me disseram ter vibrado com o modo como os viram ganhar vida nas minhas cenas, tal como tinham imaginado. Acho que deve ser um pouco como se sente um realizador, quando os argumentistas elogiam o seu trabalho. No processo de escrita, e como um dos contribuintes mais activos, tentei sempre moldar as situações para manter um fio condutor, e explicar incongruências que inevitavelmente surgiam. Esse trabalho de adaptação, de resposta às situações que os outros criaram, era muito saboroso. E, devido ao carácter episódico inerente ao processo de construção da narrativa através da postagem no message board, tentei sempre que as minhas partes terminassem com um cliffhanger (que também me deram muito gozo imaginar), que estimulasse quem escrevia a seguir a mim e que fizesse os restantes querer ler mais. Não é que tenhamos tido muitos leitores declarados, para além da equipa, mas aqueles que deixaram o seu comentário gostaram. E nós (eu, pelo menos) gostámos, que é o mais importante.

Deixei Crosswinds antes de acabar. Cada estória tem um fim natural e a certo ponto, o desta parecia ter chegado, mas alguns dos outros teimavam em encher chouriços e continuá-la por caminhos que não levavam a lado nenhum. Então desliguei-me. Espero que a tenham completado. Depois de tantos meses e dos momentos bons que me deu, Crosswinds merecia um final digno.

Copiada do ficheiro, esta é a parte final da minha última contribuição. Não faz muito sentido para quem não leu o que veio atrás, mas pelo valor nostálgico para mim, deixo-a aqui na mesma.


The man called Beihiz was short, slightly obese and darkly complected. He had a turban much like Mahamoti’s, and his vests were black and gold. Sitting on a throne surrounded by shadows, he would look menacing if his round face didn’t have an almost comical aspect.
Mahamoti didn’t feel like laughing right now, though. The vizier had listened to his story as of how the two of them had been dragged here from Dominaria, and how Rabiah was probably threatened by the Dark Wizard and his darker master. But he didn’t seem that impressed or worried. The man didn’t even appear to be a little bit curious! His derisive glare was the only thing that told them he was listening, and it got deeper by the minute. Finally, he spoke.
“Why should I give you any credit?” The disdain was clear in his words.
“You are an outsider, no more than a vagrant, I’ll wager. Even worse, you bear a name familiar to me. We don’t care much for djinns around our city. Our founder, the late king Suleiman, has taught us that we should be well rid of their shifty, conniving ways. If you are somewhat related to that friend of djinns, Mahamoti-”
The mage’s eyes flared with raging lightning. In his fury, he lifted from the ground, unbridled power flowing around him.
“I am no stranger to this land. I am the son and heir of Zur Mahamoti, the master of djinns, guardian of the sacred lamps, and sultan of the flying city of Mahat Zrinn! Acknowledge me for who I am, and show the proper respect for a lineage far more ancient than yours!”
Taken abashed by the sudden outburst, the vizier fumbled, trying to find an answer.
“Show some manners yourself, boy. It isn’t polite to treat our host so harshly. If I hadn’t abolished his ability to think some time ago, I’m sure he’d be shocked by now.” Navros stepped out from the shadows behind the throne.
He wasn’t the wizard they knew. He looked much older than he had the last time around. An unkempt beard covered his now gaunt face, grey against his blood red robes. His gaze was a feverish one, having become even more disturbing if that was possible. But he wasn’t weaker. Mahamoti could feel the arcane energies emanating from that frail body, so strong he wondered how a mortal frame could contain such power.
The voice was still the same, strong, borderline cruel, yet enthralling. “And here I was thinking I had seen the last of you…” The grin was far from pleaseant, but it was an amused one. These were two old toys he had been longing to play with again...

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