quarta-feira, novembro 29, 2006

David Fonseca, ele próprio


No dia 23, a Aula Magna alojou por algumas horas o que tenho de classificar como o melhor concerto a que já assisti até hoje.

Foi um espectáculo de luz, imagem, efeitos visuais que me remeteu para cada uma das canções de forma assombrosa. Vi David Fonseca, solto e à solta em palco, em perfeita comunicação com o público. Ouvi-o tornar-se um com a música e envolver-me no seu universo pessoal.

Durante mais de duas horas e meia, que pareceram passar a voar, o homem que constatei ser um verdadeiro animal de palco presenteou a assistência com as músicas mais emblemáticas dos seus dois álbuns, assim como temas da época Silence 4, com nova roupagem. Adorei cada uma. E também nos trouxe covers. Bastantes covers. Reinterpretações de canções dos anos 80 (que é um dos meus períodos musicais favoritos), que ao invés de trazer pensamentos de “olha, está a cantar mais uma música antiga” me fizeram salivar, e querer mais e mais. Não só porque gosto dos 80’s, mas porque lhes deu uma roupagem tão íntima, de quem interiorizou algo e nos mostra o que cada um daqueles temas significa para si.

Essa característica foi o que mais me fascinou. O espectáculo conseguiu transmitir-me o aspecto superprodução, cuidada em todos os pormenores, e ao mesmo tempo parecia estar a ver uma banda de garagem. No melhor sentido possível; lembrou-me uma actuação pessoal, e com a emoção e sentimento de descoberta que só alguém que começa consegue ter. Parecia que estava a ver um amigo actuar.

Pois é. Depois de me ter rendido ao seu timbre único e à sua escrita de canções logo no início dos Silence 4, e à confirmação do seu talento em “Sing Me Something New”, faltava capitular à sua prestação em palco – e na quinta-feira, toda a Aula Magna partilhou dessa minha rendição.

Sim, o David é mesmo ele. E um senhor.

sexta-feira, novembro 24, 2006

quinta-feira, novembro 23, 2006

Instantes

Ontem perdi-me. Não na rua. Na sala da casa dos meus pais.

Precisei de encontrar uma foto. Coisa rápida, aparentemente. Era só dirigir-me à prateleira das fotografias (sim, os meus pais têm uma prateleira inteira com álbuns de fotografias) e procurar, e foi o que fiz.

Dei por mim sentado no sofá duas horas depois a folhear um dos álbuns. Ao meu lado, alguns ainda esperavam a sua vez. Não porque ainda procurasse uma foto específica, mas porque me perdi no meio daquelas caras tão familiares e ao mesmo tempo tão diferentes que olhavam para mim. Muitas, felizmente, ainda fazem parte dos meus dias, outras não. Algumas já desapareceram de facto, outras desapareceram nas voltas do mundo. Todas elas, no entanto, fazem tanto parte de mim como daquelas fotografias.

A minha família já passou por muitas, muitas fases, e ainda assim, o que está patente em todas aquelas fotos é a constância. Aniversário após aniversário, Natal após Natal, as poses repetem-se, os sorrisos renovam-se. Boa parte do meu centro está ali, no que aqueles álbuns representam. Naqueles instantes, na sua maioria felizes, preservados numa superfície de papel, está muito do que me acompanhou no crescimento até à pessoa que sou hoje. E está também aquilo com que espero poder contar durante muito tempo.

Ontem perdi-me em momentos guardados no tempo. Sabe bem visitá-los de vez em quando.

terça-feira, novembro 14, 2006

Manhã de Nevoeiro

Finalmente, a primeira manhã de Outono do ano. Isto apesar de no calendário a estação já ter começado há um bom tempo...


O nevoeiro é um dos estados de alma do mundo que me fascina mais... Um manto que romba as arestas mais afiadas da paisagem e me faz sonhar.

quinta-feira, novembro 09, 2006

Ondas Vagas


Ondas que perduram,
que se renovam
onde as guardas,
ondeando através de nós,
através e ao redor
de onde ando,
de onde andamos os dois.

Vagas que vagueiam
por aquilo que sentimos,
vagas naquilo que são,
vagam o resto de importância
e enchem as tuas horas
vagas

de redes de espuma.

Renova aquilo que sentimos.
Guarda o que tem importância.


Abandona as ondas vagas de sentido
a divagar onde as pensaste.
Deixa-as para depois,

feitas em coisa nenhuma.

quinta-feira, novembro 02, 2006

Impressões Ensanguentadas

Pela segunda vez consecutiva, entrei no espírito do Halloween. No ano passado, eu era um assassino macilento, completo com luva a la Freddy Krueger. Este ano, fui uma pobre vítima das circunstâncias, recém-falecido num incidente sangrento.

Neste meu estado delicado (afinal, tinha acabado de me tornar um zombie), passeei pelo Bairro Alto. Numa noite que se queria de fantasia, de horror divertido, foi decepcionante ver que praticamente ninguém aderiu. Apenas normalidade por toda a parte. Ou pseudo normalidade. Muitos haviam que só com algum esforço se percebia não estarem mascarados. E tenho a certeza que outros, apesar do aspecto superficialmente banal, têm mentalidades tão assustadoras que poriam qualquer fantasia de Halloween a um canto.

As reacções diferiram bastante. Pela rua, algumas pessoas olhavam para mim e perguntavam na brincadeira se tinha tido um desastre. Comentavam divertidas com os amigos “Coitado, aquele senhor esfolou-se todo.” Os poucos que se cruzavam connosco igualmente fantasiados soltavam exclamações satisfeitas por não serem os únicos. Mas também vi sorrisos de gozo. Comentários de que “assim pintados só nos tinha faltado pintar as unhas”.

Sei que a maior parte da população não acha graça a fazer estas figuras. Acha que essas brincadeiras são infantis, e que há coisas muito mais importantes com que nos preocuparmos do que vestirmo-nos de bruxas ou vampiros e irmos para a rua. Também sei que o Halloween é, para não variar, mais uma festividade importada com fins comerciais. Pode ser. Mas se a vida já é tão rotineira, e tão sensaborona muitas vezes, porque não brincar e juntar-lhe momentos divertidos sempre que temos hipótese?