sexta-feira, outubro 30, 2009

Parabéns, Astérix!

A minha escola preparatória não estava lá muito preparada para a chuva. Era composta por vários blocos independentes, cujas salas de aula abriam directamente para o exterior. Quando tínhamos de sair das aulas, para os intervalos, não havia remédio senão encolhermo-nos a um canto com um chapéu-de-chuva ou então dar uma corrida até ao bloco polivalente, que era o único onde era permitido estar – e nem nos átrios por onde os professores entravam para as salas podíamos entrar para nos abrigar.

E quando não tínhamos uma aula? Era mesmo o polivalente, que remédio. Que estava sempre cheio e ruidoso e sem praticamente sítio para nos sentarmos. A única alternativa decente era agarrar em mim, geralmente sozinho, e ir até uma parte mais escondida do polivalente, um último reduto: a biblioteca.

Não era muito grande, a biblioteca. Tinha umas quantas estantes envidraçadas, e umas quantas mesas com cadeiras onde nos sentávamos com os livros. E tinha uma funcionária que controlava a lotação da sala, e mandava calar alguém que falasse. Numa manhã de chuva era o paraíso, portanto.

Porque é que me lembrei disto agora? Por causa do Astérix, claro.

A selecção de livros não-escolares nas prateleiras era um tanto reduzida. Felizmente, havia entre eles uma colecção das aventuras de Astérix, o Gaulês, que muitas vezes me fez companhia enquanto não tocava para a próxima aula. Ele, e o Obélix, o Paronamix, o Idéafix e mais uma aldeia inteira de personagens que, como uma poção mágica, me davam força para dar mais uma corrida através da chuva até ao outro lado da escola. Toda a gente os conhece; afinal fizeram e fazem parte do imaginário de um já respeitável número de gerações, de há 50 anos para cá. É mesmo assim, pode parecer mentira mas os gauleses irredutíveis nasceram há meio século! 50 anos de um mundo na altura da Roma Antiga que é uma fotocópia bem disposta da nossa actualidade, e daqueles que a povoam.

Há algum tempo atrás construíram caminhos cobertos entre pavilhões, lá na escola preparatória. Ao menos os putos de hoje em dia já não têm de saltar entre poças ou ficar especados com a chuva a escorrer-lhes pela cabeça abaixo. O que por um lado até é pena… porque assim muitos deles nunca visitarão a Gália nos seus furos entre aulas…

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