Depois de algumas semanas em que as circunstâncias ditaram que não o fizesse, no Sábado fui à discoteca.
Dancei. Foi uma experiência única. Cada vez que o faço é uma experiência única.
Dançar faz-me falta. Quando danço esqueço tudo, entro num estado diferente, sem precisar de álcool, pastilhas ou outro tipo de drogas. Sou só eu e a pista, unidos pela música que se entranha e me invade até abarcar tudo de mim. Posso estar com amigos, com as pessoas de quem gosto, mas em última análise dançar para mim é uma experiência extremamente egoísta, porque saio do espaço onde estou, vou sozinho para outro lugar, onde as harmonias me animam, me guiam sem pensamento consciente. Deixo o corpo fluir, pairar, seguir as correntes de música que criam caminhos para os meus membros, enquanto conduzem quaisquer pesos que possam existir na minha mente para longe de mim.
Mas transpiro. Quando danço desfaço-me em água. E mexo-me muito, gesticulo; preciso de espaço à minha volta ou acabo sempre por atingir algo ou alguém.
Se é chato ficar todo encharcado, habituei-me a isso há algum tempo atrás, e já não me faz confusão. E se sei que há quem ache ridículo e até goze com a maneira como me mexo, outros há que gostam de me ver dançar. No fundo não interessa; danço para mim. É a forma como sinto a música, e dançar de outra maneira significaria não estar a ser verdadeiro comigo mesmo.
Dançar faz-me sentir bem. Dá-me asas quando não as tenho, asas eléctricas de luzes e sons que gostaria de ter sempre. Isso não é possível, claro. Ninguém está constantemente lá em cima.
Mas pelo menos na pista, voo.